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A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos

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pois se trata de um processo cuja recorrência faz com que os crentes<br />

migrem continuamente entre os pólos da experiência de fé teológica (a<br />

partir da teologia cristã bíblica) e da experiência de fé antropológica (através<br />

dos fortes apelos emocionais e dos momentos de catarse coletiva).<br />

244<br />

Os mesmos autores chamam a atenção, ainda, para o fato de que na maioria dos pro-<br />

gramas, reafirmam-se as promessas e das vitórias para os “servos de Deus” e prega-se a<br />

prosperidade financeira como um direito a ser reivindicado, por meio da qual<br />

os fiéis recebam, com facilidade e sem esforço algum, as coisas do<br />

mundo material. O discurso da prosperidade, presente nos sermões veiculados<br />

na TV, apresenta o mundo material como o mundo de Deus e os<br />

“servos” de Deus como detentores do direito a este mundo, afinal eles<br />

são seus próprios filhos. 245<br />

Outro aspecto salientado por Patriota e Turton é a semelhança dos discursos religiosos<br />

televisivos com a “linguagem presente nos manuais de auto-ajuda, inclusive uma das fórmu-<br />

las mais usadas pelos pregadores é a indução da repetição das suas falas pelos seus ouvintes<br />

e a repetição dos seus próprios enunciados”, ora, “esta repetição ocorre essencialmente na<br />

negação do sofrimento” 246 .<br />

Com as grandes mutações contemporâneas no campo religioso, segundo Jean-Paul<br />

Willaime, um processo de privatização, estetização, ritualização e psicologização do religio-<br />

so. Com isso, a pregação como elemento central do culto protestante deslocou-se tornando o<br />

pregador mais um animador de auditório do que um arauto da doutrina. 247<br />

Como se pode notar, na relação entre a religião e os meios de comunicação de massa,<br />

houve uma série de reformulações e adequações homiléticas. Ora, é, justamente, essa prática<br />

homilética mediada — que se insere no contexto da sociedade espetacular —, que merecerá<br />

maior atenção deste estudo e será analisada mais detidamente nos próximos capítulos.<br />

244<br />

PATRIOTA, Regina M. P. e TURTON, Alessamdra N. (2004). Memória discursiva: sentidos e significações<br />

nos discursos religiosos da TV. Ciências & Cognição; Vol 01: 13-21. Disponível em<br />

www.cienciasecognicao.org. Consultado em julho de 2005.<br />

245<br />

Id., ibid.<br />

246<br />

Id., ibid.<br />

247<br />

Cf. WILLAIME, Jean-Paul. Prédica, culto protestante e mutações contemporâneas do religioso. Estudos da<br />

Religião, ano XVI, n 23, p. 41-55, jul-dez, 2002. São Bernardo do Campo: Umesp. p. 41-82.<br />

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