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A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos

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o diabo, a quem chamam freqüentemente de “inimigo”. Se a causa não é humana, seria, por-<br />

tanto, perda de tempo lutar contra estruturas humanas. Tal simplificação se mostra especi-<br />

almente “bem sucedida” no contexto do processo de massificação religiosa pelo qual pas-<br />

sam os movimentos religiosos contemporâneos.<br />

Em contrapartida, esses mesmos sermões se tornam cada vez mais emocionais e vol-<br />

tados para o indivíduo e com pretensão conversionista. A recorrência aos testemunhos e<br />

experiências de conversão dramática, apoiados pela música e pelos cânticos, também de tom<br />

fortemente emocional, bem como o aumento do volume de voz dos pregadores, favorecia a<br />

comunicação com públicos cada vez maiores. Tais discursos (das prédicas, dos testemunhos<br />

e das músicas) geralmente enfatizavam a dicotomia entre igreja e mundo, considerados an-<br />

tagônicos e incompatíveis. A conversão pretendida era, então, evidenciada pelo abandono<br />

das coisas seculares e a adoção de um padrão de comportamento culturalmente definido e<br />

ideologicamente orientado.<br />

Um diferencial em relação a esse movimento empenhado na renovação espiritual se dá<br />

com o que passou a ser chamado por alguns de “pentecostalismo autônomo”, “neopentecos-<br />

talismo” por outros, ou ainda “pentecostalismo tardio”. 196 Segundo Leonildo Campos, a<br />

especificidade desse tipo de expressão religiosa está “justamente em adequar sua mensagem<br />

às necessidades e desejos de um determinado público” 197 . Na opinião do mesmo autor, igre-<br />

jas como a Universal do Reino de Deus são empreendimentos religiosos ligados ao “surgi-<br />

mento de um capitalismo tardio e a um quadro cultural, que as ferramentas de marketing<br />

desempenham um importante papel” 198 . Por essa característica mesma, tais “empreendimen-<br />

tos” investem no comércio de bens simbólicos, e para isso recorrem aos meios de comuni-<br />

cação. Celebra-se, aí, um casamento bígamo da religião com o teatro e o mercado, como<br />

sugere o autor citado. Assim, a homilética entra definitivamente na idade mídia.<br />

196<br />

Para uma discussão sobre o assunto, ver “As tipologias e reconstruções do pentecostalismo” em CAMPOS,<br />

1997, p. 49ss. Ver também MARIANO, Ricardo. Neopentecostais: sociologia do novo pentecostalismo no<br />

Brasil. São Paulo: Loyola, 1999. 246 p.; ROMEIRO, Paulo. Decepcionados com a graça: esperanças e frustrações<br />

no Brasil neopentescostal. São Paulo: Mundo Cristão, 2005. 250 p.<br />

197<br />

CAMPOS, 1997, p. 52.<br />

198<br />

Id., ibid., p. 52. Ver também, no capítulo 3 desta tese, o item 3.2.1.2 sobre a audiência e a hermenêutica espetacular.<br />

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