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A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos

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piração divina das Escrituras, entende que os livros da Bíblia foram escritos para servir uni-<br />

camente a um propósito temporário ou circunstancial, e que muitos dos seus postulados de-<br />

vem ser sumariamente rejeitados como inverídicos.<br />

A interpretação moral: esta se reporta ao filósofo alemão Immanuel (ou Emmanuel)<br />

Kant (1724-1804) 300 ao dar proeminência à razão pura e ao idealismo sustentado pelo sistema<br />

metafísico. Submete a interpretação das Escrituras às demandas da razão. No caso de uma<br />

interpretação literal ou historicamente aceita de alguma passagem não condizer com as pro-<br />

posições morais impostas pela razão, tem-se a liberdade para descartá-la e adicionar a tais<br />

palavras um sentido compatível com o da religião da razão. O único valor das Escrituras<br />

seria ilustrar e confirmar a religião da razão.<br />

A interpretação naturalista: esta sustenta que a crítica bíblica deve sempre distinguir<br />

entre o que é fato e o que é mera opinião. Vai além das interpretações racional e moral ao<br />

rejeitar qualquer agência sobrenatural na esfera humana. Explica os milagres de Jesus como<br />

atos de bondade, ou demonstração de habilidade medicinal, ou como ilustração de sagacida-<br />

de e tato pessoal, recordados de maneira peculiar à época e opiniões dos diferentes escrito-<br />

res.<br />

A interpretação mítica: conforme desenvolvida e sustentada pelo teólogo alemão Da-<br />

vid Friedrich Strauss (1808-1874) 301 , consiste na aplicação lógica e consistente da doutrina<br />

hegeliana (panteísta), segundo a qual a idéia de Deus e do absoluto não foi concebida mira-<br />

culosamente, nem resulta de revelação individual, mas desenvolveu-se paulatinamente na<br />

consciência da humanidade. Assim, uma narrativa não deve ser considerada histórica em<br />

quatro situações: primeiro, quando seus postulados são irreconciliáveis com as leis univer-<br />

sais que governam o curso dos eventos; segundo, quando é inconsistente consigo mesma ou<br />

com outras de mesmo teor; terceiro, quando os atores conversam em poesia ou quando dis-<br />

cursam de forma incompatível com sua formação e situação; e, finalmente, quando a subs-<br />

tância essencial ou o contexto do registro de determinada ocorrência é inconcebível por si<br />

300<br />

Sobre esse tema, ver: KANT, Emmanuel. Crítica da razão prática. São Paulo: Martin Claret, 2004. 182 p.<br />

Obra-prima de cada autor. KANT, Emmanuel. Crítica da razão pura. Rio de Janeiro: Tecnoprint, s.d. 295 p.<br />

Coleção Universitária. KANT, Emmanuel. Crítica da faculdade do juízo. Trad. Valerio Rohden, Antonio<br />

Marques. 2 ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2002. 381 p.<br />

301<br />

Sobre esse autor, ver: STRAUSS, David Friedrich. David Friedrich Strauss and his theology. Cambridge:<br />

Cambridge University, 1973. 301 p. : il.<br />

106

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