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A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos

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A versão religiosa desse círculo vicioso se faz notar nas “novidades espirituais” que<br />

surgem e desaparecem com a mesma rapidez, oferecendo sempre alguma novidade “espiri-<br />

tualmente imprescindível” nas paradas de sucesso da fé. Tais novidades se sucedem vertigi-<br />

nosamente e, por maior que seja o impacto que causem, logo são substituídas por outras<br />

novidades igualmente impactantes e olvidáveis. Como conseqüência, a sociedade é domina-<br />

da pela banalização (tese 59). E a maior de todas as banalizações é a do próprio ser humano.<br />

Ao dar-se como espetáculo, ocorre a coisificação do humano e, por conseguinte, a sua bana-<br />

lização – uma vez que já não é mais fim, e sim meio 574 . O homem vivo banalizado é a vede-<br />

te do espetáculo (tese 60). Vale ressaltar o uso do termo vedete por Debord. Vedete é aquela<br />

pessoa que é colocada em evidência, isto é, para ser vista. Entretanto, para o autor, a vedete<br />

é o oposto do indivíduo (tese 61). O ser humano, ao dar-se em espetáculo ao mundo, banali-<br />

za-se. Campos comenta o “vedetismo pastoral” no contexto neopentecostal, mas fazendo<br />

uma distinção entre os pastores-estrelas da igreja eletrônica norte-americana e os pastores<br />

da Igreja Universal do Reino de Deus que, por mecanismos adotados pela estrutura eclesiás-<br />

tica, impedem a “personificação do carisma”, reservando esse estrelato para o seu líder mai-<br />

or — com isso, a igreja pretende “impedir estragos divisionistas” 575 . Isso acontece também<br />

com outras denominações. De qualquer forma, mesmo que restringindo o estrelato ao prin-<br />

cipal expoente da denominação, o fascínio pela estrela está presente, ainda ao vedetismo<br />

exclusivo de um astro maior.<br />

A abundância espetacular leva à falsa escolha, e à disputa, entre espetáculos concor-<br />

rentes (tese 62). Compare-se com a abundância de ofertas de espetáculos religiosos concor-<br />

rentes, e, por isso mesmo, banais.<br />

Na esfera religiosa, toda transformação e novidade apresentam-se como expressão do<br />

mercado. Magali Cunha, estudiosa da cultura gospel — que é a cultura característica de<br />

grande parte da religião da mídia — afirma que “é o mercado que está dando forma ao novo<br />

modo de ser evangélico porque tudo o mais está conservado” 576 . A multiplicidade, e concor-<br />

574 Sobre a coisificação do ser humano, ver KANT, Emmanuel. Crítica da razão prática. São Paulo: Martin<br />

Claret, 2004. 182 p. Obra-prima de cada autor. ISBN 85-7232-558-1. Ver, também, DUSSEL, Enrique. Ética<br />

comunitária. Petropolis: Vozes, 1987. Teologia e libertação: a libertação na história. E, ainda, BUBER, Martin.<br />

Eu e tu. Trad. Newton Aquiles von Zuben. 2 ed. São Paulo: Cortez & Moraes, 1979. 170 p.<br />

575 Cf. CAMPOS,1997, p. 98-101<br />

576 CUNHA, 2004, f. 303.<br />

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