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A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos

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crítico, deve ser descartado por não oferecer mecanismos seguros para a afirmação categóri-<br />

ca da verdade que só pode ser absoluta.<br />

Não obstante, diferentemente dos fundamentalistas clássicos, os pregadores da mídia<br />

se ocupam menos com a verdade do que com o que parece ser a verdade. Suas afirmações,<br />

conquanto categóricas, não são majoritariamente de cunho doutrinal ou teórico. Antes, cir-<br />

cunscrevem-se no campo do comportamento humano, mas não no sentido do antigo mora-<br />

lismo religioso, mas no dos procedimentos cotidianos desafiadores. Dificilmente se assiste a<br />

uma prédica mediada que seja eminentemente doutrinária e conceitual. Seus assuntos e te-<br />

mas são apenas ilustrados com algumas referências bíblicas, como recurso ao argumento de<br />

autoridade (tão criticado pela lógica menor) 636 . Este procedimento coloca tais telepregado-<br />

res em sintonia com a teologia escolástica, que julgava legítimo esse procedimento: o recur-<br />

so ao argumento de autoridade. 637 Entretanto, não se trata de alusão à tradição e aos douto-<br />

res da Igreja, mas às palavras literais das Escrituras.<br />

Os temas das prédicas são tirados do cotidiano dos fiéis e limitam-se a estereótipos de<br />

felicidade, de sucesso, de vitória e de poder... A exegese e a memória são, portanto, desne-<br />

cessárias ao telehomileta. Mais do que isso, são indesejáveis, pois colocam em risco sua<br />

credibilidade e em dúvida as suas verdades espetaculares.<br />

III.2.1.2 A audiência e a hermenêutica espetacular<br />

O segundo princípio de uma homilética coerente com a história da pregação cristã é o<br />

compromisso com a presença e atualização da mensagem evangélica. Neste ponto talvez<br />

resida a mais efetiva ação homilética contemporânea. Conquanto não interessem os funda-<br />

mentos histórico-exegéticos dos seus postulados, a julgar pela crescente audiência, não há<br />

como negar que seu discurso é significativamente relevante para o espectador moderno. O<br />

telehomileta espetacular consegue despertar o interesse de seu público, dirigindo-lhe uma<br />

mensagem afinada, ou melhor, sintonizada na freqüência dos seus mais pungentes anseios.<br />

A homilética, não da presença, mas do presente, encontra eco nas expectativas da grande<br />

636<br />

Ver, por exemplo, IDE, 2000. Ver também, SAGAN, 1996.<br />

637<br />

Ver nesta tese, no primeiro capítulo, o item que trata da homilética medieval (I.3.4 A pregação na Idade<br />

Média: uma homilética mendicante).<br />

190

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