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A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos

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sobre o poder exercido pelos senadores patrícios” 323 . A relação entre retórica e política é<br />

notória na decisão tomada pelos censores, no ano 161 a.C., de punir e expulsar de Roma os<br />

professores de retórica latina; bem como no fim do livre debate imposto pelos césares, tanto<br />

nas assembléias populares quanto no senado oligárquico, por ocasião da derrubada da repú-<br />

blica. 324 Se, de um lado, a censura implica na restrição ao poder político do cidadão, fica<br />

evidente, de outro lado, que esse poder se amplia em um regime que possibilite a liberdade<br />

de expressão.<br />

A retórica romana se notabilizou não pela sua vertente política, mas pela jurídica, na<br />

qual os discursos não implicam em deliberações sobre o futuro, mas em julgamento de a-<br />

contecimentos passados — na oratória deliberativa, há debate de idéias entre um número<br />

maior de interlocutores, ao passo que a jurídica se configura como discurso unidirecional,<br />

proferido por profissionais do direito, sem a possibilidade da réplica dialógica da parte dos<br />

jurados ou juízes, que se limitam a proferir sua sentença favorável ou contrária, no final do<br />

julgamento.<br />

O resultado do cerceamento romano ao livre debate foi a degeneração da oratória, que<br />

acabou por tornar-se “mero palavreado espalhafatoso e vazio, um exibicionismo verbal sem<br />

o vigor que a caracterizava no tempo que a voz dos homens livres [...] determinava seu pró-<br />

prio destino” 325 . Ao longo da história, esse processo de alternância entre valorização e esva-<br />

ziamento da oratória/retórica se reproduziu amiúde, ora por imposições políticas, ora por<br />

convicções científicas<br />

Seja como for, a vigência da retórica antiga, remonta ao século V a.C. Para muitos,<br />

porém, inclusive para Barthes, essa retórica teria “morrido” no século XIX d.C., vítima da<br />

pressuposta objetividade científica moderna que desconfia de discursos rebuscados ou re-<br />

pletos de subjetividade — o “dogmatismo racionalista iniciado por Descartes e adotado ma-<br />

ciçamente no séc. XIX foi a maior causa da decadência da retórica”, afirma o filósofo Nico-<br />

323 STONE, 1988, p. 236.<br />

324 Cf. id., ibid., p. 57.<br />

325 Id. ibid., p. 58.<br />

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