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A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos

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negar a vida real, uma vez que torna esta mais “sem graça” que aquela. 553 Uma vez que a<br />

realidade espetacular se constituiu no modelo cósmico da realidade 554 , o espetáculo maquia,<br />

falsifica a vida porque não a considera satisfatória como ela é. Em seus Comentários sobre<br />

a Sociedade do espetáculo, de 1988, Debord afirma que “a falsificação forma o gosto e sus-<br />

tenta a falsificação, ao fazer com conhecimento de causa desaparecer a possibilidade de<br />

referência ao autêntico. Chega-se a refazer o verdadeiro, quando possível, para fazer com<br />

que ele se pareça com a falsificação” 555 . E ainda “aquilo de que o espetáculo deixa de falar<br />

durante três dias é como se não existisse” 556 . Em síntese, a consciência ontológica é dada<br />

pelo espetáculo.<br />

Portanto, a lógica do espetáculo afirma que “o que aparece é bom, o que é bom apare-<br />

ce” 557 — ou que pelo menos é melhor do que o que não aparece. O requisito necessário para<br />

o reconhecimento, para o sucesso, não é o talento ou a competência. Para que alguém se<br />

torne celebridade “da noite para o dia”, tudo o que precisa é de uma chance para aparecer.<br />

Não é de admirar que a palavra show (derivado do verbo inglês to show, “mostrar”) tornou-<br />

se, inclusive na língua portuguesa, sinônimo de espetáculo. Daqui se pode inferir que a reli-<br />

gião, que até pouco tempo vinha perdendo seu espaço e influência na sociedade real, ao em-<br />

penhar-se por ocupar espaço na comunidade virtual, volta a conquistar prestígio e a influen-<br />

ciar as comunidades reais — ainda que isso implique na falsificação delas mesmas, para que<br />

se pareçam cada vez mais com o mundo da mídia. Pode-se perguntar então se o resultado é,<br />

de fato, a ocupação da mídia pela religião, ou se é a ocupação da religião pela mídia.<br />

III.1.3 O poder pseudo-sagrado<br />

Parece não haver dúvidas de que um aspecto determinante da cultura/ideologia espeta-<br />

cular é sua integração no sistema do capitalismo globalizado 558 . Ora, se o espetáculo é o<br />

553<br />

Cp. essa idéia de Debord com a “teoria da realidade fabricada” de Boorstin. BOORSTIN, Daniel J. The image.<br />

Middlesex: Penguin Books, 1962. 314p.<br />

554<br />

Cf. BERGER, 1985, 195 p.<br />

555<br />

DEBORD, 1997, p. 206.<br />

556<br />

Id., ibid., p. 182.<br />

557<br />

Id., ibid., p. 17.<br />

558<br />

Sobre esse tema, ver CUNHA, Magali do Nascimento. “Vinho novo em odres velhos”: um olhar comunica-<br />

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