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A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos

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ealidade, ainda que com aparência de objetividade, induzindo metonimicamente a transferir<br />

a parte para o todo. 693<br />

Se a preocupação da retórica clássica estava centralizada na persuasão, a retórica es-<br />

petacular ocupa-se da sedução. E isso a coloca em vantagem em relação àquela, porque a<br />

sedução exige ainda menos esforço por parte do seduzido — ao contrário, lhe é cômoda,<br />

prazerosa. A sedução é uma experiência de transcendência do seduzido que, de certa forma<br />

reconhece sua própria insuficiência, o que resulta na veneração do sedutor, que se torna o<br />

objeto de admiração “porque é vivido como possibilidade ou promessa da plenitude busca-<br />

da, como solução para a experiência de carência, de vazio e de finitude” 694 .<br />

A homilética espetacular, portanto, abandona suas pretensões persuasivas e arrisca-se<br />

pelos labirintos da sedução. Sua prioridade já não é o aspecto cognitivo da prédica, mas o<br />

seu caráter emotivo; já não lhe interessam as palavras, mas as imagens; não importam as<br />

causas e razões, mas as afirmações e as repetições; sua força não está nos talentos e capaci-<br />

dades dos atores religiosos, mas no poder do meio de fabricar estrelas. Enquanto a homiléti-<br />

ca convencional busca sensibilizar a audiência a partir da razão, principalmente pelo recurso<br />

às metáforas, a homilética espetacular atua sobre a razão do telespectador a partir da emo-<br />

ção, pela intermediação metonímica das imagens.<br />

III.2.2.2 Redundância e entropia<br />

A homilética convencional, por se dar no contexto celebrativo e litúrgico da comuni-<br />

dade de fé, tem um alcance limitado e um público restrito e entrópico 695 . A homilética da<br />

mídia, por seu turno, estabelece contato com um público muito mais amplo e diversificado.<br />

A heterogeneidade da audiência exige um alto grau de redundância, para solucionar pro-<br />

blemas e deficiências de um canal com ruídos. Redundância e entropia são, portanto, dois<br />

conceitos que podem ajudar na compreensão da mediação homilética espetacular.<br />

693 Cf. FERRÉS, 1998, p. 159.<br />

694 Id., ibid., p. 119.<br />

695 Entropia aqui entendida como rubrica da ciência da comunicação, que significa “medida da desordem ou da<br />

imprevisibilidade da informação”. Cf. HOUAIS, 2002.<br />

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