A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos
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la Abbagnano 326 . Entretanto, para outros, “não é a decadência da retórica que é evidente e<br />
sim, a decadência dos oradores” 327 .<br />
Há hoje um renovado interesse pela matéria, principalmente a partir da re-<br />
interpretação da retórica de Aristóteles feita por Chaïm Perelman que se consagrou como o<br />
fundador da chamada Nova Retórica; bem como das reflexões de Umberto Eco a respeito da<br />
retórica concebida como semiótica da interação conversacional. 328 De certa forma, pode-se<br />
afirmar que, embora não receba esse nome, a retórica — como a arte e a técnica de falar ou<br />
escrever de modo persuasivo, ou “de persuadir com o uso de instrumentos lingüísticos” 329 ,<br />
ou ainda como ciência metalingüística que estuda o processo persuasivo — continua a ser<br />
objeto de estudos da semiótica, da lingüística, da filosofia, do direito, do marketing, da pu-<br />
blicidade e propaganda, entre outras áreas — enfim, como exclamou Barthes, “o mundo<br />
[ainda] está incrivelmente repleto de antiga Retórica”. 330<br />
No campo da teologia, desde a época dos Pais da Igreja, a retórica faz parte do currí-<br />
culo teológico e da formação pastoral dos líderes cristãos. Os princípios da retórica são a-<br />
plicados no processo de elaboração das prédicas dando origem à homilética, entendida co-<br />
mo a teologia pastoral do discurso religioso — teologia da prcoamação. A homilética se<br />
constitui como ciência e como meta-ciência do discurso religioso, pois, ao mesmo tempo<br />
em que estabelece princípios para a sua elaboração, discursa sobre o próprio discurso, ao<br />
analisá-lo criticamente.<br />
II.1.3.1 A homilética e a retórica antiga<br />
Conhecer os princípios retóricos antigos é imprescindível para a compreensão da ho-<br />
milética clássica cristã. Tais princípios reinaram no Ocidente do século V a.C. até o século<br />
XIX d.C. Não será necessário repeti-los integralmente 331 ; mas será conveniente que sejam<br />
326 ABBAG<strong>NA</strong>NO, 2000, p. 857.<br />
327 BUENO, Silveira. A arte de falar em publico: Rhetorica, Eloquencia. São Paulo: Empreza Graphica de “Re-<br />
vista dos Tribunaes”, 1933. p. v.<br />
328 Ver ECO, Umberto. Tratado geral de semiótica. Trad. Antônio de Pádua Danesi e Gilson César Cardoso de<br />
Souza. 3 ed. São Paulo: Editora Perspectiva, 2000. p. 234-254. Ver também PERELMAN, Chaïn. Retóricas.<br />
329 ABBAG<strong>NA</strong>NO, 2000, p. 856 (verbete “Retórica”).<br />
330 BARTHES, 2001, p. 3.<br />
331 Esses princípios podem ser facilmente encontrados nos vários manuais ou obras de introdução à retórica, tal<br />
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