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A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos

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pios lógicos de identidade, não-contradição e terceiro excluído, pretendidos pela ciência. 394<br />

Esse tipo de argumento se apóia no que o público pensa e é, portanto, nas palavras de Eco,<br />

“uma espécie de espetáculo aceitável”. Por essa razão, trata-se mais de persuasão do que de<br />

demonstração. É por essa razão que, na opinião de Barthes, esse material lógico-retórico<br />

“funciona com perfeita naturalidade nas obras da cultura dita de massa” 395 . A noção capital<br />

para Aristóteles é a da verossimilhança, pois, como já assinalado, “mais vale uma verossi-<br />

milhança impossível do que um possível inverossímil” 396 . O entimema se constitui, portan-<br />

to, como um silogismo prático cuja conclusão visa a um ato de decisão.<br />

Pela via dos arrazoados psicológicos a persuasão se dá não pelo “que há na cabeça do<br />

público”, mas por “aquilo que o público acredita que os outros têm na cabeça” 397 . Assim,<br />

Aristóteles preferiu classificar as paixões (pathos) a partir das idéias do público sobre as<br />

paixões, e não a partir de uma descrição científica. 398 Na retórica das paixões acontece uma<br />

articulação fundamental do logos proposicional com a gênese do pathos, que diz respeito<br />

aos afetos de quem ouve, e constitui o ponto de partida dos argumentos patéticos; e o ethos,<br />

como atributo do orador, que se desdobra nos argumentos éticos. Estes pontos (os três tipos<br />

de argumentos: etos, patos e logos) tornarão a ser abordados no item II.2.2, que retomará a<br />

discussão sobre as vias lógico-psicológicas da argumentação persuasiva.<br />

II.2.1.2 Dispositio (lat.) ou Taxis (gr.)<br />

Uma vez reunidos os argumentos lógicos e psicológicos adequados ao seu propósito,<br />

compete ao orador arranjá-los nas grandes partes do discurso. Isso tanto no nível da frase<br />

(conlocatio), como no nível da parte (compositio), quanto no nível do discurso (dispositio).<br />

Aristóteles reorganiza as 5 partes do discurso formuladas primeiramente por Córax —<br />

exórdio, narração, argumentação, digressão e epílogo — em quatro: 1. exórdio; 2. narratio;<br />

394 Ver ECO, 2000, p. 234.<br />

395 BARTHES, 2001, p. 62.<br />

396 Id., ibid., p. 16.<br />

397 Id., ibid., p. 77.<br />

398 Sobre isso ver a edição bilíngüe grego/português de ARISTÓTELES. A retórica das paixões. Trad. Isis Borges<br />

B. da Fonseca. São Paulo: Martins Fontes, 2000. 73 p.<br />

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