18.02.2013 Views

A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos

A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos

A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

242<br />

diferença, portanto [entre o sagrado e o profano]. Até a venda de CDs é<br />

do mesmo jeito. 826<br />

A homilética espetacular, conquanto trágica, deve, portanto, assegurar o prazer do es-<br />

pectador. Tal prazer consiste num “desafogo, num repouso, num modo de ocupar os laze-<br />

res” 827 . Isso implica em que a sensação, a emoção, o pathos, do público seja determinante<br />

para a construção do discurso.<br />

A homilética trágica deve, afinal, produzir o terror e a compaixão. Para obter esse re-<br />

sultado, afirma Aristóteles, “não se requer tanta arte e exige-se uma coregia [derivado da<br />

palavra “coro”] dispendiosa” 828 . Isso para incutir no espectador o temor e a compaixão. Te-<br />

mor a quê, e compaixão por quê, não cabe aqui discutir, mas basta sinalizar que, obviamen-<br />

te, só pode ser por algo alinhado aos interesses dos detentores dos poderes que sustentam os<br />

meios.<br />

Após a purgação das emoções, segue-se o estado de desafogo e repouso. Ao projetar<br />

suas ansiedades sobre os caracteres, as emoções e as ações apresentados pela homilética<br />

trágica espetacular, o espectador sublima sua própria realidade de terror e compaixão con-<br />

vertendo-a em temor e compaixão pela imitação da realidade, pela encenação do terror, pela<br />

representação da compaixão: temor e compaixão pela mídia.<br />

Sobre o papel da tragédia, Vilhena e Medeiros contrastam as idéias de Aristóteles com<br />

as de Hegel, e depois com as da mídia contemporânea, da seguinte forma: a katarsis, referi-<br />

da por Aristóteles, era possível porque possibilitava ao espectador o distanciamento reflexi-<br />

vo do trágico que está sendo representado pela mediação da arte cênica, a qual torna supor-<br />

tável o que no mundo real seria insuportável — pois trata-se de um relato criado para esse<br />

fim. Hegel, acrescenta a essa reflexão a preocupação com o elemento ético que entra em<br />

jogo na tragédia, pois “os personagens trágicos oferecem ao espectador um relato sobre a<br />

superação da condição humana, marcada por sua finitude” 829 . A purificação das emoções,<br />

conforme Aristóteles, e a superação das condições humanas limitadas, segundo Hegel, não<br />

826 SILVA, Vera. Religião na TV: manipulação psíquica. Observatório da Imprensa, qualidade na TV. Em<br />

http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos/qtv210220011.htm. Consulta em em 15.6.2005.<br />

827 ARISTÓTELES, [s.d.], p. 234.<br />

828 O corego, na na Grécia antiga, era o cidadão responsável pelo custeio e organização dos coros dramáticos<br />

e/ou pela direção dos coros e da música nas demais festas públicas. Cf. ARISTÓTELES, [s.d.], p. 260.<br />

829 Cf. VILHE<strong>NA</strong>, 2001.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!