18.02.2013 Views

A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos

A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos

A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Assmann, então se pergunta:<br />

173<br />

cede algo semelhante com os rituais de assimilação da ciência econômica<br />

[...]. 573<br />

Como funciona a ingestão e o metabolismo dos alimentos míticos —<br />

quanto à economia, à teologia e tantas outras coisas — até que se transformem<br />

em credos incontestes e rotineiros?<br />

Na opinião de Debord, a sociedade portadora do espetáculo domina as regiões subde-<br />

senvolvidas pela hegemonia econômica e como sociedade do espetáculo (tese 57). Tal do-<br />

minação passa pela reconceituação monetária, porque o espetáculo é a outra face do dinhei-<br />

ro: é o dinheiro que apenas se olha (tese 49). E mais, ainda, é o dinheiro que se torna sujei-<br />

to. A versão religiosa dessa tese teria sua mais explícita expressão na religião da prosperi-<br />

dade, que, por meio de testemunhos enfáticos de fiéis-consumidores plenamente satisfeitos<br />

com o produto de sua fé, “mostra” o sucesso de alguns enquanto a maioria permanece ape-<br />

nas espectadora. Tais testemunhos se constituem em figuras modelares que se apresentam<br />

como prova de que o produto anunciado dá resultado.<br />

Porque toda realidade tornou-se aparência (tese 50), a sociedade do espetáculo, para<br />

manter-se, precisa fabricar ininterruptamente pseudonecessidades (tese 51). Ora, a socieda-<br />

de depende da economia que depende da sociedade (tese 52). Assim, na sociedade do espe-<br />

táculo, a mercadoria contempla a si mesma (tese 53), pois precisa constantemente se auto-<br />

alimentar.<br />

Acontece que o prestígio do objeto revelado torna-se vulgar ao ser adquirido (tese 69),<br />

porque o encanto desses objetos está principalmente enquanto se mostra como elemento<br />

espetacular, mas, uma vez deslocado de sob os holofotes espetaculares, tais objetos são o-<br />

fuscados pela realidade sem graça. Esse desencanto deve ser conpensado imediatamente<br />

com um novo encantamento. Assim, cada nova mentira da publicidade é uma confissão da<br />

mentira anterior (tese 70). Daí que o perpétuo do espetáculo é a mudança (tese 71). A mer-<br />

cadoria precisa dar lugar à mercadoria.<br />

573 ASSMANN, Hugo; HINKELAMMERT, Franz Josef. A idolatria do mercado: ensaio sobre ecônomia e<br />

teologia. São Paulo: Vozes, 1989. p. 126-127 (Teologia e libertação).

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!