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A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos

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lenares” da tradição contra os produtos descartáveis “seculares” estão confinados a grupos<br />

muito reduzidos e numericamente quase desprezíveis. 632<br />

III.2.1 Princípios homiléticos espetaculares (modus operandi)<br />

No capítulo anterior, foi apresentada uma teoria homilética que tratou de identificar os<br />

princípios, os métodos e os propósitos de uma homilética que fosse exegeticamente coerente<br />

com a trajetória histórica da pregação evangélica, hermeneuticamente consistente no pro-<br />

cesso de atualização dessa memória, e pastoralmente desafiadora para a reorganização do<br />

cotidiano da comunidade de fé, numa perspectiva de construção dialógica e participativa do<br />

futuro. Caberia, a esta altura da pesquisa, abordar a pregação mediada, à luz dessa teoria<br />

homilética, relacionando-a, desta feita, aos seus próprios princípios, métodos e propósitos<br />

— a saber, aos princípios, meios e propósitos da sociedade do espetáculo, conforme expos-<br />

tos na primeira parte deste capítulo (III.1)<br />

III.2.1.1 Eisegese e desmemória<br />

O primeiro princípio de uma homilética consistente com a história da pregação cristã é<br />

o compromisso com a memória. A consciência da história e o conhecimento do passado são<br />

a primeira garantia da liberdade no presente e da possibilidade de construção do futuro. En-<br />

tretanto, a partir da tese de Debord sobre o tratamento que a sociedade espetacular dá à his-<br />

tória, pode-se inferir que uma homilética identificada com essa sociedade tenderá igualmen-<br />

te ao apagamento ou ao mascaramento da história.<br />

A análise das prédicas mediadas faz notar que as alusões ao contexto histórico dos<br />

textos bíblicos, que supostamente servem de suporte ao discurso, são mínimas. Em geral,<br />

tais prédicas se limitam a citar versos bíblicos esparsos e deslocados de seus contextos, pró-<br />

ximos ou remotos, menores e maiores. Essas citações têm propósitos ilustrativos e efeitos<br />

632 Para uma abordagem da matriz religiosa brasileira e de sua configuração, ver BITTENCOURT FILHO, José.<br />

Matriz religiosa: religiosidade e mudança social.<br />

188

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