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A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos

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Os argumentos patéticos mais convincentes, isto é, aqueles que mais conseguem sen-<br />

sibilizar, alterar, amenizar o pathos da audiência, seriam aqueles que envolvem alguns dos<br />

seguintes aspectos das chamadas tríades persuasivas: Deus, Pátria e Família, de um lado; e<br />

Jogo, Violência e Sexo, de outro. Voltar-se-á a esta questão no próximo capítulo, quando<br />

será tratada a homilética espetacular.<br />

Além desses elementos, “também fazem parte dos argumentos patéticos” os cinco<br />

grupos nos quais estão classificados os lugares comuns (Tópica): quantidade, qualidade,<br />

essência, existência e tempo. O apelo a esses topoi é muito utilizado visando a impressionar<br />

e a comover, a convencer a respeito da superioridade de algo, a chamar a atenção para algo<br />

ideal a ser almejado, a convidar ou desafiar para a mudança, a enaltecer o passado ou a pro-<br />

jetar o futuro. “Os argumentos patéticos”, nos lembra Dirce de Carvalho, “de modo geral,<br />

têm sido utilizados tanto pela cultura antiga como pela moderna” 466 .<br />

Neste ponto, a tendência de muitos pensadores é a de rejeitar esse tipo de argumenta-<br />

ção, como fez Platão, considerando-a falaciosa e baseada em verdades prováveis, isto é,<br />

baseadas não na verdade, mas no que parece ser a verdade. Entretanto, convém lembrar a<br />

observação de I. F. Stone 467 sobre a dificuldade, ou mesmo a impossibilidade, de se alcançar<br />

a plena verdade, como queria, por exemplo Sócrates. Este, por meio de seu método dialético<br />

de busca das causas últimas, transformava cada assunto em uma cebola, cujas cascas iam<br />

sendo retiradas, uma a uma, até que não havia mais cebola, mas unicamente fragmentos de<br />

cascas. Para Aristóteles, esse procedimento não ajudava as pessoas a viver (a tomar decisões<br />

políticas ou a julgar casos nos tribunais, pois nem o passado nem o futuro podem ser apre-<br />

endidos como verdade pura). O estado de espírito (o humor, o estado emocional) das pesso-<br />

as interfere, interage, e condiciona sua capacidade de julgar e de discernir. Nas palavras de<br />

Aristóteles, os julgamentos das pessoas são influenciados por suas paixões; ora, “as paixões<br />

(ta pathe) são todos aqueles sentimentos que, causando mudanças nas pessoas, fazem variar<br />

seus julgamentos” 468 .<br />

466 CARVALHO, 1993, p. 95.<br />

467 STONE, 2002, p. 106.<br />

468 ARISTÓTELES, 2000, p. 5.<br />

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