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A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos

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tre duas idéias — uma primeira relacionada com a significação primitiva da palavra, a outra<br />

com a significação nova que lhe é atribuída. 424<br />

A rigor, as figuras são desvios ou “defeitos” da linguagem, pois de certa forma a cor-<br />

rompem dizendo as idéias de forma não canônica, e freqüentemente de forma não esperada.<br />

Essa matéria sempre empolgou os estudiosos da retórica, e mais recentemente, fascina os<br />

semiólogos. Alguns chegaram, nos anos 60, a querer limitar a retórica ao estudo das figuras<br />

de estilo, entendidas como desvio em relação ao “grau zero”, ou seja, em relação à nor-<br />

ma. 425<br />

Entretanto, é precisamente pelo recurso às figuras de retórica que um discurso pode<br />

tornar-se atraente, uma vez que “desviar uma palavra de seu sentido ordinário permite dar<br />

ao estilo maior dignidade” 426 . Isso equivale a dar um “ar estrangeiro” ao discurso e, como<br />

observou Aristóteles, as pessoas “admiram o que vem de longe e a admiração causa pra-<br />

zer” 427 .<br />

Não cabe, aqui, uma abordagem detalhada sobre tais figuras 428 . Apenas relacionar-se-á<br />

as “grandes figuras arquetípicas” acrescidas de breve definição 429 :<br />

A Metáfora (do grego metaphorá [met(a)- e –fora], “mudança”, “transposição”, e por<br />

extensão “transposição do sentido próprio ao figurado”): É obtida pela designação de um<br />

objeto ou qualidade mediante uma palavra que designa outro objeto, isto é pela comparação<br />

sem os elementos comparativos, mas mediante a atribuição a um ser características de outro<br />

usando a linguagem conotativa (p.ex., ele tem uma vontade de ferro, para designar uma von-<br />

tade forte, como o ferro). 430 Para Aristóteles, as metáforas podem ser igualmente inconveni-<br />

entes ao discurso, se forem ridículas, excessivamente majestáticas ou trágicas, não obstante,<br />

424<br />

Sobre isso, ver RICOEUR, Paul. La matáfora viva. Trad. esp. Agustín Neira. 2 ed. Madrid: Ediciones Cristiandad;<br />

Editorial Trotta, 2001. p. 81.<br />

425<br />

Para uma crítica do conceito de figuras como desvio, ver REBOUL,2004,. p. 64-66. Ver também BARTHES,<br />

Roland. O grau zero da escrita: seguido de novos ensaios críticos. São Paulo: Martins Fontes, 2000.<br />

426<br />

ARISTÓTELES, [s.d.], p. 176. — Livro III, cap. ii.<br />

427<br />

Id. ibid., p. 176. — Livro III, cap. ii.<br />

428<br />

Para uma discussão de fundo a respeito do lugar das figuras no estudo da retórica contemporânea, ver principalmente<br />

o estudo II de RICOEUR, Paul. La matáfora viva. Trad. esp. Agustín Neira. 2 ed. Madrid: Ediciones<br />

Cristiandad; Editorial Trotta, 2001. p. 67-91.<br />

429<br />

Para as definições das figuras de retórica, tomou-se como referência (1) PIMENTELI, <strong>Carlos</strong>. Português<br />

descomplicado. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 211-215. (2) HOUAIS, 2001.<br />

430<br />

Ver também RICOUR, Paul. La metáfora viva. 2 ed. Trad. Agustín Neira. Madrid: Ediciones Cristandad,<br />

135

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