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A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos

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“nenhum outro povo na história deu mais valor à liberdade de expressão do que os gregos,<br />

particularmente os atenienses”. O conceito de democracia, inventado pelos gregos, baseia-se<br />

no direito de livre expressão. Era freqüente o emprego de termos como “igualdade” (isego-<br />

ria), e “isonomia” (isologia); “expressão livre” (eleutherostomou glosses) e “liberdade de<br />

expressão” (parrhesia).<br />

Em geral, as cidades-estado gregas eram de tendência democrática, à exceção de Es-<br />

parta e Creta, que eram governadas por guerreiros proprietários de terras. Embora os espar-<br />

tanos também se julgassem livres, não havia isegoria (“igualdade”) em Esparta, como tam-<br />

bém não haveria posteriormente em Roma. Isto é, havia o direito do voto, mas não a liber-<br />

dade de expressão, pois em suas assembléias não havia debate. As tomadas de decisão eram<br />

determinadas por um sistema eleitoral no qual os mais ricos — senadores patrícios e os co-<br />

merciantes mais prósperos — tinham maioria automática. Stone nota ainda que na língua<br />

oficial dos romanos, o latim, não havia termo equivalente a isegoria e portanto, não figurava<br />

no direito romano. Em contrapartida, “na assembléia ateniense, todo cidadão tinha o direito<br />

de falar”; e mais, “era convidado a se manifestar” 321 . Deve-se ressaltar que nem todos eram<br />

considerados cidadãos, pois estavam excluídos, entre outros, as mulheres e os escravos. En-<br />

tretanto, o próprio Sócrates desdenhava dessa prática ateniense dizendo que ali qualquer um<br />

podia manifestar-se livremente, fosse “ferreiro, sapateiro, comerciante, capitão de navios,<br />

rico, pobre, homens de boa família ou sem família alguma” 322 . Ou seja, se a palavra não era<br />

de todos, pelo menos o era para os cidadãos reconhecidos como tal.<br />

Essa atmosfera “intelectual” ateniense, do livre pensamento e da livre expressão,<br />

transparece no episódio neotestamentário da pregação do apóstolo Paulo no Areópago (At<br />

17.16ss). Na ocasião a reação da platéia diante da novidade de uma nova “teoria” sobre a<br />

ressurreição foi variada, mas não hostil (conforme exposto no primeiro capítulo, em I.3.2.2).<br />

Em contrapartida, na Roma antiga “é bem documentada a freqüente expulsão de filó-<br />

sofos e outros professores” — na oligarquia aristocrática, o ensino da retórica não deve ser<br />

estimulado, para que não seja “ampliada a participação no governo e abalado o controle<br />

321 Cf. STONE, 1988, p. 236<br />

322 Cf. Id., ibid., p. 236.<br />

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