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A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos

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veicular é como se não existisse. O resultado é que “nunca se pôde mentir com tão perfeita<br />

ausência de conseqüências” pois “o que nunca é punido torna-se permitido” 603 .<br />

As manifestações contrárias ou críticas a essa sociedade são raras, pois “em toda parte<br />

onde reina o espetáculo, as únicas forças organizadas são as que querem o espetáculo” 604 . A<br />

realidade agora é o espetáculo.<br />

III.1.9 A imagem é tudo<br />

Ora, se os argumentos se tornaram inúteis, isso não quer dizer que não haja persuasão<br />

efetiva. Não, entretanto pela via lógica, mas pela via imagética. Pois, “busca-se a dissolução<br />

da lógica, de acordo com os interesses fundamentais do novo sistema de dominação” 605 .<br />

A persuasão espetacular alienante se dá, principalmente, pelo uso que faz da imagem<br />

(do latim, imago, conexo com o grego eikón, de onde deriva “ícone”). A interação, a apro-<br />

priação e o contato não se dão com o mundo, mas com seus ícones — por definição de di-<br />

cionário, ícone tem o sentido primitivo de “representação de personagem ou cena sagra-<br />

da” 606 . O mundo real é demasiado profano, temporal, secular. Mas sua imagem torna-se<br />

sagrada ou, pelo menos, peseudo-sagrada. A tendência é a da adoração do ícone e não da<br />

cena que retrata. E isso também é alienação. Ora, como observou Caravias, “um homem<br />

alienado é um adorador de ídolos, já que se empobrece transferindo seus poderes de vida a<br />

coisas que estão fora dele” 607 .<br />

Surge, então, uma importante questão: quem fabrica essa iconografia? Raramente as<br />

imagens são produzidas por seus próprios admiradores. Em geral, “a imagem é construída e<br />

escolhida por outra pessoa que se tornou a principal ligação do indivíduo com o mundo” 608 .<br />

A imagem recebida pelo espectador lhe chega pronta: escolhida, editada e formatada sem a<br />

sua participação. É curioso que, mesmo assim, a imagem se tornou a sustentação de tudo.<br />

603<br />

DEBORD, 1997, p. 183-184.<br />

604<br />

Id., ibid., p. 183.<br />

605<br />

Id., ibid., p. 187.<br />

606<br />

HOUAIS, 2001.<br />

607<br />

CARAVIAS, José L. O Deus da vida e os ídolos da Morte. São Paulo: Paulinas, 1992. p. 72. Catequese Bíblica.<br />

608<br />

DEBORD, 1997, p. 188.<br />

183

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