A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos
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tamente tornou-se uma representação” 540 . A grande realidade é a realidade da representa-<br />
ção, do simulacro. O espetáculo é o real.<br />
A segunda tese, decorrente da primeira, apresenta a imagem, o elemento principal<br />
dessa representação, como a “inversão concreta da vida” 541 . Embora Debord não explicite a<br />
raiz etimológica do termo espetáculo, seria pertinente considerá-la aqui: espetáculo deriva<br />
do latim spectáre, que se traduz por “olhar, observar atentamente, contemplar”, e tem a<br />
mesma raiz de specùlum,i, “espelho”, derivado do verbo specère, “olhar, observar” 542 . Essa<br />
noção etimológica reforça a compreensão do que afirma Debord sobre a “inversão” 543 da<br />
vida, isto é, do espetáculo como “movimento autônomo do não-vivo” 544 . Daí que todo espe-<br />
táculo, por apresentar-se como reflexo do real, como espelho, é sempre uma imagem inver-<br />
tida do real. Isto é, se do lado de cá da superfície espetacular está a vida, do outro lado está<br />
a não-vida, ou uma ilusão da vida. Por mais parecidas que sejam, a imagem e a realidade<br />
não são a mesma coisa. São, antes, o reverso uma da outra.<br />
Ao convergir, ou concentrar, “todo olhar e toda consciência” (tese 3), uma vez que a<br />
relação social espetacular é mediada por imagens (tese 4), o espetáculo se torna uma visão<br />
de mundo objetivada 545 (tese 5), e se constitui no “modelo atual da vida dominante na socie-<br />
dade” 546 (tese 6). Como modelo, essa visão de mundo 547 molda as várias instâncias da soci-<br />
edade: a economia, a política, a cultura, e, naturalmente, a religião. Debord não trata especi-<br />
ficamente da religião, mas dá as categorias para que os vários segmentos sejam analisados à<br />
luz do espetáculo. O espetáculo, assim, se apresenta como instrumento de unificação, plas-<br />
mando uma cosmovisão comum.<br />
540 DEBORD, 1997, p. 13.<br />
541 Id., ibid., p. 13.<br />
542 Cf. HOUAIS, 2001.<br />
543 Sobre “inverses”, principalmente no contexto da economia, ver HINKELAMMERT, Franz. Las armas ideológicas<br />
de lamuerte. Salamanca: Ediciones Sígueme, 1978. p. 299-310.<br />
544 DEBORD, 1997, p. 13.<br />
545 Sobre o tema da visão de mundo objetivada, ver BERGER, Peter L. O dossel sagrado: elementos par auma<br />
teoria sociológica da religião. Org. <strong>Luiz</strong> Roberto Benedetti; trad. José <strong>Carlos</strong> Barcellos. São Paulo: Paulus,<br />
1985. 195 p. Col. Sociologia e Religião.<br />
546 DEBORD, 1997, 14.<br />
547 Sobre a comunicação de massa como local da ideologia, ver THOMPSON, 1999. p. 341ss.<br />
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