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A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos

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parecerão ser supridas, pela mediação das imagens, encenações e representações. Afinal, no<br />

dizer de Fisk, “a magia faz parte da essência do meio [televisivo]” 563 .<br />

III.1.4 O império da mercadoria<br />

Em outro capítulo da Sociedade do espetáculo, Debord discute ainda o tema da mer-<br />

cadoria como espetáculo. Na sociedade do espetáculo, a mercadoria é a formulação pelo<br />

avesso do valor vivido (tese 35). Pode-se traçar um paralelo com a idéia do evangelho como<br />

mercadoria que representa o avesso do seu real valor. Se o princípio evangélico maior é a<br />

graça, o da mercadoria é o preço. Daí que já não vigora mais o princípio de que se deve<br />

buscar primeiro o reino sem se preocupar com as demais coisas, pois essas seriam acrescen-<br />

tadas naturalmente, conforme registro evangélico da pregação de Jesus no Sermão do Monte<br />

(cf. Mt 6); mas, antes, deve-se abrir mão da justiça, pois as questões fundamentais se deslo-<br />

cam 564 : o que importa é buscar primeiro as demais coisas, quanto ao reino, este será acres-<br />

centado como brinde. Essa mentalidade fica explícita no tipo de apelo que se faz para moti-<br />

var os fiéis-espectadores a assistir a certos programas religiosos espetaculares: a cura para<br />

doenças do corpo; a solução de conflitos familiares; a obtenção de bens materiais; a con-<br />

quista de postos de trabalhos e lugares de proeminência; etc.<br />

O mundo sensível é substituído por uma seleção de imagens e é dominada pelo feti-<br />

chismo 565 da mercadoria (tese 36). No caso da experiência religiosa, pode-se deduzir da<br />

constatação de Debord, a relação com Deus passa a ser regulada pelo mercado. 566 Teologi-<br />

camente falando, trata-se de um tipo particular de idolatria. 567 Na prática, trata-se de uma<br />

troca de bens simbólicos por bens reais. 568 Isto no sentido de que os fiéis trocam dinheiro<br />

real por promessas de bens reais: cura, emprego, casamento... Os bens simbólicos são ape-<br />

563 FERRÉS, 1998, p. 88.<br />

564 Cf. GORGULHO, Gilberto; ANDERSON, Ana Flora. A Justiça dos pobres: Mateus. São Paulo: Ed. Pauli-<br />

nas, c. 1981. Circulos biblicos.<br />

565 Sobre fetichismo e economia, ver HINKELAMMERT, Franz. Las armas ideológicas de lamuerte..<br />

566 Pode-se, aqui, retomar o conceito de troca de bens simbólicos, estudado por Pierre Bordieu. Cf. BOURDIEU,<br />

1999. 361 p. Ciências Sociais, Coleção Estudos.<br />

567 Sobre idolatria e idolatrias, ver CARAVIAS, Jose L. O Deus da vida e os ídolos da morte. São Paulo: Ed.<br />

Paulinas, 1992. p. 72 (Catequese biblica).<br />

568 Os bens reais, também são bens simbólicos, pois representam (e ostentam) um estilo de vida.<br />

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