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A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos

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Um terceiro enfoque se fundamenta nos métodos histórico-críticos. Estes superam as<br />

leituras ingênuas e concordistas da Bíblia constituindo-se notoriamente em benefícios à ta-<br />

refa hermenêutica. Entretanto, Croatto alerta para a tendência desses métodos deslocarem a<br />

atenção do exegeta ou do leitor intérprete da Bíblia para o nível pré-canônico ou pré-<br />

redacional, enclausurando a tarefa hermenêutico-exegética no passado. Essa abordagem,<br />

muitas vezes, acaba por se converter antes em “história do texto do que [n]a exploração de<br />

seu sentido”.<br />

As análises semióticas e estruturais também contribuem, com um quarto enfoque, pa-<br />

ra os estudos bíblicos ao oferecerem chaves de leitura resultantes da codificação do texto.<br />

Entretanto por limitar-se ao seu dinamismo interno, acabam por ser também reducionistas,<br />

uma vez que abstraem “da ‘vida’ do texto sua história, seu entorno cultural, social ou religi-<br />

oso”.<br />

Uma quinta possibilidade é a análise narrativa ou literária. Este enfoque sugere que<br />

“o sentido não está numa palavra ou frase, mas na obra como uma totalidade”. Nessa obra,<br />

o sentido se vai produzindo progressivamente. Entretanto, esta também se limita à sincronia<br />

do texto, tal qual a análise semiótica.<br />

Tanto a classificação de Terry 303 quanto a de Croatto 304 tornam evidente que a aborda-<br />

gem que se faz da Bíblia não é ideologicamente isenta ou neutra, por conseguinte, é assim<br />

com toda elaboração homilética. A prédica é determinada pela porta-de-entrada adotada, ou<br />

pela escolha de tal ou qual chave-de-leitura. Toda leitura bem como toda prédica são, por-<br />

tanto, uma reconstrução do sentido do texto.<br />

Conquanto, o processo hermenêutico pretenda aproximar-se do sentido primeiro de<br />

um texto — e para isso leve em conta o surgimento das palavras em determinada língua, sua<br />

etimologia, seu usus loquendi, a filologia comparativa, a sinonímia, o senso gramático his-<br />

tórico; a comparação de passagens paralelas; o ponto de partida histórico; a linguagem figu-<br />

rada e seus diferentes estilos (fábulas, enigmas, parábolas, alegorias, provérbios, poesia sa-<br />

piencial, sonhos e profecias extáticas, evangelhos, apocalipses...); tipologias, símbolos e<br />

303 Cf. TERRY, 1974, p. 19-20.<br />

304 Cf. CROATTO, 1994, p. 14-25.<br />

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