A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos
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tuições mais antigas nas quais tais movimentos eclodem. O pentecostalismo, por sua vez, se<br />
disseminou principalmente entre as camadas mais populares. Na prática, entretanto, tais<br />
movimentos freqüentemente se confundem e se constitui em tarefa de especialista distingui-<br />
los, por essa razão, esses grupos serão tratados aqui em conjunto.<br />
A despeito dessa distinção de classe econômica, há elementos que identificam essas<br />
expressões religiosas, e permitem considerá-las em uma categoria abrangente. Dentre essas<br />
características da experiência carismático-pentecostal, está a ênfase nas “reações físicas”,<br />
resultantes de um “batismo com o Espírito Santo”. A prédica, como elemento racional que<br />
tem a responsabilidade de articular a inteligência da fé (fazer teológico) dá lugar a um tipo<br />
de pregação psicossomática que procura provocar efeitos físicos: lágrimas, riso, arrepios,<br />
êxtases, etc. A ênfase do discurso carismático-pentecostal não recai sobre dogmas ou sobre<br />
o julgamento crítico da realidade a partir dos postulados da fé, mas sobre a experiência dos<br />
dons espirituais especiais, tais como a glossolalia, as curas miraculosas e os exorcismos.<br />
Os sermões, conquanto se tornem cada vez mais longos, são cada vez mais superfici-<br />
ais, porquanto redundantes 195 , nas respostas que oferecem às questões existenciais humanas.<br />
Em geral, pode-se resumir essa resposta à fórmula “Jesus é a solução” para todos e para<br />
tudo. Tal solução está condicionada ao ato subjetivo de a pessoa “aceitar Jesus no coração”.<br />
Em termos de aplicação pastoral concreta, para a conquista felicidade, o que se requer é que<br />
o fiel leia a Bíblia, cante louvores, faça oração, freqüente a igreja e, é claro, e contribua fi-<br />
nanceiramente. Essa pode ser a síntese pastoral dessas prédicas. As inovações neopentecos-<br />
tais agregaram outras recomendações de caráter mais mágico, tais como participar de nove-<br />
nas, e sessões especiais, bem ao gosto da religiosidade popular, com procissões e elementos<br />
concretos, tais como água orada, sal grosso, manto sagrado, rosa ungida, etc. As soluções<br />
aos problemas existenciais, em geral, são assim simplistas: espera-se pela intervenção divi-<br />
na para que o curso da história do indivíduo seja mudado, basta que o interessado cumpra<br />
um mínimo de rituais místicos que agradem ou constranjam a divindade a atender-lhe as<br />
súplicas. Não há, no contexto de tais prédicas, a discussão sobre as causas estruturais ou<br />
sistêmicas dos males que afligem a comunidade de fiéis, nem propostas de transformações<br />
dessas estruturas. Isso porque, para tais pregadores, a causa de todas as desgraças é uma só:<br />
195 Ver discussão sobre redundância e entropia no capítulo III, item 2.2.2.<br />
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