18.02.2013 Views

A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos

A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos

A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

pastorais. A releitura das Escrituras permite, então, que acontecimentos do passado textifi-<br />

cados (isto é, tornados textos.), reinterpretados e convertidos em matriz querigmática, sejam<br />

apresentados à comunidade no presente como propostas para a transformação do futuro. A<br />

teologia pastoral constrói essa ponte entre o passado, o presente e o futuro, mediante a con-<br />

corrência dialógica das ciências sociais e humanas.<br />

Dentre essas ciências, interessa a esta pesquisa aquelas relacionadas mais diretamente<br />

com a prática homilética enquanto fenômeno comunicativo — particularmente as ciências<br />

da comunicação, incluindo sua vertente semiológica que, por sua vez, se constitui como<br />

desdobramento posterior de uma retórica anterior. A discussão a respeito da retórica será o<br />

objeto de análise ao longo deste tópico.<br />

É opinião corrente entre os estudiosos da Retórica que muito pouco foi acrescentado a<br />

essa matéria depois dos preceitos formulados e reformulados por Aristóteles 309 , Cícero 310 ,<br />

Quintiliano 311 , Luciano 312 e alguns outros. De fato, a partir dos conceitos retóricos aristoté-<br />

licos se extraiu a matéria de praticamente todos os tratados de arte oratória, antigos e mo-<br />

dernos. 313 Marilena Chauí afirma que, com as obras Arte Retórica e Arte Poética, Aristóte-<br />

les deixou fixadas para o Ocidente as regras da argumentação persuasiva (retórica) e as re-<br />

gras dos gêneros literários (poética) e que “tudo quanto foi escrito depois sobre a arte da<br />

persuasão e sobre o que será chamado de literatura, ainda que ampliado, renovado, adaptado<br />

a novas circunstâncias históricas e sociais, foi escrito a partir de Aristóteles” 314 . Roland Bar-<br />

thes afirma que a semiótica da escrita, um dos temas a que dedicava seus estudos, merecia<br />

ser confrontada “com a antiga prática da linguagem literária, que durante séculos se chamou<br />

Retórica” 315 . E, não obstante as instigantes novidades trazidas pelos semiólogos contempo-<br />

râneos, Barthes admite ter sido “tomado de excitação e de admiração diante da força e da<br />

309 Aristóteles (384 -322 a.C.).<br />

310 Marcus Tullius Cícero (106-43 a.C.). Ver CICERO, Marco Tulio. El arte de la invencion. Buenos Aires: Tor,<br />

[19__?]. 160p. Nueva biblioteca filosofica TOR, 57.<br />

311 Marcus Fabius Quintilianus (ca. 35-95 d.C.). Em português há uma edição clássica de sua principal obra<br />

sobre a oratória: QUINTILIANO, M. Fábio. Instituições oratórias. Trad. Jerônimo Soares Barbosa. São Paulo:<br />

Edições Cultura, 1944. 1 v. 359 p; 2 v. 255 p.<br />

312 Luciano di Samosata (120-180 d.C.)<br />

313 Cf. SENGER, Jules, citado por GOUVEIA, Herculano Gouvêa Jr. Lições de Retórica Sagrada. Campinas:<br />

Editora Maranata, 1974. p. 7. Ver também BARTHES, 2001, p. 14.<br />

314 CHAUÍ, Marilena. Introdução à história da filosofia: dos pré-socráticos a Aristóteles, v. 1. 2 ed. Ver. E<br />

ampl. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. p. 476.<br />

315 BARTHES, 2001, p. 3.<br />

110

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!