18.02.2013 Views

A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos

A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos

A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

I.3.2 A pregação dos Apóstolos: uma homilética da emoção e da persistência<br />

Os seguidores de Jesus ficaram conhecidos como “apóstolos” ou simplesmente “discí-<br />

pulos”. As páginas do Novo Testamento dão algumas informações mas não muito detalha-<br />

das sobre essas personalidades. Em geral são referências lacônicas, pois tais textos não têm<br />

pretensões biográficas. Os relatos evangélicos, entretanto, fazem questão de salientar que os<br />

chamados apóstolos foram escolhidos pelo próprio Jesus. As razões ou os critérios para a<br />

escolha dessas e não de outras pessoas são discutidas muito rapidamente por Pattisson 63 : (1)<br />

são pessoas do campo e não da cidade (nenhum de Jerusalém); e (2) são trabalhadores e<br />

artesãos, isto é, pessoas das camadas mais populares. Em suma, são pessoas marginalizadas<br />

ou excluídas, para usar uma categoria atual. Pode-se acrescentar que, em geral, eram pesso-<br />

as sem formação escolar ou erudição, muito embora demonstrem inteligência e perspicácia.<br />

No aspecto da educação formal, o apóstolo Paulo seria uma exceção.<br />

Relatos de sermões, principalmente dos apóstolos Pedro e Paulo, dão a entender que a<br />

força desses discursos não residia nos pregadores como indivíduos, mas nas comunidades<br />

que os respaldavam. Em várias ocasiões, a vida desses pregadores foi poupada porque os<br />

que queriam prendê-los ou matá-los temeram a reação popular — “Depois, ameaçando-os [a<br />

Pedro e a João] mais ainda, os soltaram, não tendo achado como os castigar, por causa do<br />

povo, porque todos glorificavam a Deus pelo que acontecera [a cura de um coxo à porta do<br />

Templo]” (At 4.21). Isso permite a interpretação de que, quando nas páginas neotestamentá-<br />

rias encontram-se relatos de personagens ilustres, os fatos se referem, num sentido mais<br />

amplo, aos atos de comunidades significativas.<br />

À luz do exposto, e como uma análise da homilética de todos os apóstolos fugiria aos<br />

limites desta pesquisa, parece justificável restringir esta análise a duas expressões paradig-<br />

máticas da homilética apostólica: Pedro, como paradigma do pregador iletrado, provinciano,<br />

conservacionista; e Paulo, paradigma do pregador erudito, cosmopolita e expansionista.<br />

63 PATTISON, 1903, p. 31.<br />

42

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!