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A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos

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I.2 A homilética antes da homilética<br />

Esta retrospectiva seria praticamente interminável caso se pretendesse buscar a origem<br />

dos discursos religiosos. Assim, é preciso que se estabeleça um limite para a investigação.<br />

Neste caso, parece suficiente buscar as raízes da homilética cristã na práxis homilética dos<br />

tempos do Primeiro Testamento, isto é, da Bíblia Hebraica; cientes, entretanto de que esta<br />

última, por sua vez, teve suas próprias origens em tempos ainda mais remotos e decorre de<br />

inúmeras outras interinfluências culturais.<br />

Em geral, os historiadores da homilética adotam a prática de Jesus como ponto de par-<br />

tida para seus relatos, embora alguns façam breves referências aos profetas e até mesmo às<br />

práticas sinagogais dos judeus como precursores da homilética cristã. 28 Nesta pesquisa, pro-<br />

curar-se-á demonstrar que, de fato, a homilética cristã é uma herança recebida de períodos<br />

anteriores, cujas origens não se restringem às práticas profética e sinagogal, mas que têm<br />

inspiração no papel homilético do rei, dos chefes de clãs e pais de família, bem como na<br />

experiência sacerdotal e rabínica 29 dos judeus.<br />

Portanto, a homilética cristã é historicamente herdeira da tríplice hierarquia judaica:<br />

rei-sacerdote-profeta. Guilherme Cook, ao abordar a evangelização na perspectiva da comu-<br />

nicação, indica o papel desses líderes da seguinte forma:<br />

No Antigo Testamento [sic.] existiam três grandes ministérios ou vocações<br />

a serviço de Deus e do povo. O rei-pastor deveria ser o representante<br />

de Deus ante o povo, simbolizando o domínio do divino sobre todas<br />

as áreas da vida humana. [...]<br />

Os sacerdotes eram os guardiões dos símbolos máximos da fé (“cópias,<br />

sombras e modelos” Hb 8.5). Eram comunicadores de massa que, com<br />

seus atos litúrgicos recordavam constantemente a ação de Deus que,<br />

tendo libertado seu povo do Egito, seguiria libertando-o da escravidão<br />

28 PATTISON, 1903, escreve sobre a pregação no Primeiro Testamento, destacando o papel dos profetas, ao<br />

passo que KER, 1938, comenta sobre os antecedentes da pregação cristã referindo-se a Moisés, às escolas de<br />

profetas, à prática em Judá e em Israel, durante o cativeiro e depois do retorno do cativeiro.<br />

29 “Rabi” era um título honroso dos escribas, já em uso antes do período neotestamentário. Cf. VAN DEN<br />

BORN, A. (org.) Dicionário Enciclopédico da Bíblia. 2 ed. Petrópolis: Vozes, 1977. Ver também, HORS-<br />

LEY, Richard. Arqueologia, história e sociedade na Galiléia: o contexto social de Jesus e dos Rabis. São<br />

Paulo: Paulus, 2000. p. 163-167.<br />

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