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A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos

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Para a indústria espetacular, a grande constatação é a de que “a crueldade vende” 749 . O<br />

produto disso é que “as desgraças humanas se converteram numa das principais moedas de<br />

troca no mercado televisivo [cinematográfico, radiofônico, eclesiástico...], no qual uma das<br />

principais transações consiste na comercialização da dor” 750 . Nas metonímias espetaculares,<br />

isto é, nas seleções de imagens midiáticas, há uma notória preferência por aquelas que ofe-<br />

recem solução para os problemas individuais e coletivos por meio do emprego da força, da<br />

agressividade. Com que facilidade as personagens espetaculares desferem golpes, socos e<br />

pontapés, disparam tiros, destroem carros, explodem casas, torturam e são torturados e, no<br />

final, saem realizados e satisfeitos ficando assim justificado o uso da violência. Da mesma<br />

forma, obtém sucesso o jornalismo sangrento, a cujos agentes Ferrés denomina de “abutres<br />

da informação” ou “traficantes da dor e da miséria”. Não obstante a crítica contundente que<br />

fazem pessoas como Ferrés, a audiência desses programas tende a aumentar. Como o que é<br />

bom para a mídia, parece ser bom para a igreja, pelo menos para a parte mais ambiciosa<br />

desta, vê-se o mesmo tipo de incremento trágico-violento no discurso e na prática religiosa.<br />

A relação entre religião e violência é ancestral 751 , como nos lembra Heidi Jershel:<br />

221<br />

Impactadas pela violência urbana, ouço algumas pessoas dizerem que<br />

isto tudo acontece por “falta de religião”. Neste tipo de afirmação percebe-se<br />

um pensamento onde religião poderia significar o sinônimo de<br />

paz, ausência de violência, relações mais justas, mais humanas, etc. Isto<br />

parece uma ironia quando visitamos a história deste continente desde<br />

1500, com a chegada dos europeus colonizadores — homens e brancos.<br />

A experiência religiosa, desde o princípio da colonização, mostra-se exatamente<br />

o contrário do imaginário popular religioso. Ela é, em si,<br />

uma experiência intrinsecamente violenta. A violência vem acoplada à<br />

religião cristã no início da colonização branca deste continente.752<br />

Cruz e espada demonstram ser boas e históricas companheiras. Foi assim durante as<br />

cruzadas, foi assim durante a inquisição, foi assim durante a colonização dos “novos” conti-<br />

nentes. Mas esse não parece ser mérito exclusivo do cristianismo. O mesmo sentimento,<br />

com variações culturais, o mesmo espírito bélico, parece seduzir indivíduos de todas os cre-<br />

749 FERRÉS, 1998, p. 78.<br />

750 Id., ibid., p. 78.<br />

751 Sobre isso, ver . GIRARD, 1998.<br />

752 JARSHEL, Haidi. Violência de gênero e religião. Em ADITAL (Agência de Informação Frei Tito para a<br />

América Latina). 29.11.02. Disponível em<br />

http://www.adital.com.br/site/noticias/4636.asp?lang=PT&cod=4636. Consulta em julho de 2005.

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