A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos
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A atenção dada à pesquisa de opinião, explicaria, em parte, a “padronização” dos pro-<br />
gramas religiosos mediados. Numa observação superficial, o espectador tem dificuldades<br />
em saber se se trata de um programa católico, pentecostal ou seicho-no-ye. É muito comum,<br />
por exemplo, estar lá um apresentador, segurando um microfone sem fio, movimentando-se<br />
ao redor de um púlpito de acrílico ou de madeira, fazendo apelos emocionais relativos aos<br />
problemas do cotidiano, geralmente ligados à saúde e às aspirações de prosperidade. 645<br />
Naturalmente, as instituições históricas são mais resistentes a essas adequações, mas<br />
nem elas conseguem evitá-las. Veja-se o que ocorre com as Igrejas Assembléias de Deus,<br />
que, por decisão da sua XIX Convenção geral, em 1969, proibia seus membros, e especial-<br />
mente seus líderes pastores, de possuir aparelhos de televisão 646 . O mesmo acontecia em<br />
outras denominações protestantes que logo passaram a identificar a televisão com a “besta<br />
do apocalipse” 647 , isto é, aquele poder satânico que tentaria governar o mundo para impedir<br />
o regresso de Cristo. Outro caso típico é o da Igreja Católico-Romana: não fosse pelas ves-<br />
timentas mais ou menos litúrgicas que seus padres-animadores continuam a usar, não seria<br />
possível distingüi-los de seus concorrentes evangélicos. Digno de nota é o fato de que, no<br />
início das transmissões das missas católicas pela Rede Vida, era freqüente a legenda escla-<br />
recendo: “esta é uma missa católica”. Tal esclarecimento não seria necessário, não fosse a<br />
semelhança flagrante com outros programas religiosos não-católicos.<br />
A despeito de toda resistência e divergências internas na Igreja Católica, pelo menos<br />
na mídia, venceu a religião do espetáculo — ainda que oficialmente, seus representantes e<br />
seus documentos insistam em dizer o contrário. Conquanto tenha cedido em tantos aspectos,<br />
debate-se para tentar manter um pouco do que lhe é historicamente próprio. Um caso exem-<br />
plar de descompasso entre o dogma eclesiástico católico e a opinião pública é o embate tra-<br />
vado em relação ao uso de anticoncepcionais pela membresia católica. O Ibope realizou<br />
uma pesquisa (publicada em 9 de março de 2005) que constatou que 86% dos católicos são<br />
favoráveis ao uso (contra 12% que concordam com a igreja), a despeito de toda a orientação<br />
645<br />
Sobre isso, ver ROMEIRO, 2005.<br />
646<br />
Cf. BROSE, 1980, p. 88.<br />
647<br />
Durante muito tempo se via, ao lado da marginal do rio Tietê, numa de suas favelas, um outdoor que dizia ser<br />
a televisão a besta apocalíptica.<br />
194