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Viagens pelo Amazonas e Rio Negro[-WwW.LivrosGratis.net-](1)

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330 Alfred Russel Wallace<br />

Pelo uso do calçado, os dedos dos pés ficam retorcidos,<br />

E, ao peso do chapéu, ficam as frontes doloridas.<br />

Pobre gente enervada, arruinada <strong>pelo</strong> luxo!<br />

Muito ainda lastimo as raparigas da Inglaterra,<br />

Com a cintura, o busto e os seus seios apertados<br />

Por aquele vil e torturante instrumento, chamado “colete”.<br />

E, assim, passam aqueles bons índios a sua vida simples.<br />

São uma raça pacífica; poucos crimes graves<br />

São conhecidos entre eles; não roubam, não matam,<br />

E todas essas complicadas maldades e vilanias<br />

Dos homens ditos civilizados são aqui ignoradas.<br />

Todavia, não penso em colocar, como alguns querem,<br />

O homem selvagem acima do civilizado,<br />

Ou desejar que retrogrademos e vivamos<br />

À maneira dos nossos antepassados, antes da vinda de César.<br />

É verdade que as misérias, as necessidades, infortúnios,<br />

A pobreza, os crimes, os corações empedernidos,<br />

As intensas agonias mentais e que arrastam<br />

Os homens para a sua própria destruição,<br />

Fazendo-os terminar os dias na cela de um manicômio,<br />

Os milhares de tormento que o ouro faz cair sobre nós,<br />

As grandes lutas de morte, para obter os meios de vida,<br />

Tudo isso os selvagens ignoram e não sofrem.<br />

E daí os gozos, os prazeres, os deleites,<br />

Que a mente sã e bem cultivada desfruta,<br />

A apreciação das belezas, tanto da natureza<br />

Como da arte; a digressão, ao infinito.<br />

Dos prazeres e conhecimentos, que os livros nos fornecem;<br />

A constante mutação de incidentes e de cenários,<br />

Que nos fazem viver uma vida em cada ano;<br />

Todas essas coisas o selvagem não sabe, não goza.<br />

Mas tranqüilos podemos nós perguntar: pode a dura necessidade<br />

Forçar que essa grande felicidade deva coexistir<br />

Para sempre com a monstruosa massa de seres desgraçados?<br />

Devem muitos milhões sofrer essas misérias destruidoras,<br />

Enquanto apenas uns poucos é que gozam de graciosas dádivas?<br />

Pois não há por aí, confinados em nossas grandes cidades,

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