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Viagens pelo Amazonas e Rio Negro[-WwW.LivrosGratis.net-](1)

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602 Alfred Russel Wallace<br />

Quando há eclipse, acreditam que aquele “espírito-mau” está<br />

matando a lua, e, então, fazem toda espécie de barulho que podem para<br />

afugentá-lo. 187<br />

Uma das suas mais singulares superstições é a que diz respeito<br />

aos seus instrumentos de música, os quais usam em seus festivais e denominam<br />

de “música do jurupari”.<br />

Tais instrumentos consistem em oito (ou às vezes doze) tubos<br />

ou trombetas, feitos de bambu ou dos caules ocos de palmeiras, alguns<br />

com formato mesmo de trombeta, feitos de casca de árvore e com bocais<br />

feitos de argila e de folhas.<br />

Cada par de instrumentos dá uma nota diferente, e, quando<br />

tocados conjuntamente, produzem música algum tanto agradável, por<br />

vezes parecendo como que um conjunto de clari<strong>net</strong>as e de baixos.<br />

Esses instrumentos, contudo, são conservados em tal mistério,<br />

que mulher alguma, em tempo algum, pode vê-los, sob pena de<br />

morte.<br />

Ficam sempre guardados em um igarapé, em local bem seguro,<br />

a certa distância da maloca, e de onde são trazidos nas ocasiões<br />

apropriadas.<br />

Quando se lhes percebe a aproximação, todas as mulheres retiram-se<br />

imediatamente para a floresta ou para alguma choupana vizinha,<br />

que eles geralmente já têm, ali perto, para esse propósito, e onde se<br />

escondem, até que se acabe a cerimônia.<br />

Depois desta, os instrumentos são de novo levados para o local<br />

onde costumam ficar guardados, e as mulheres, então, saem dos seus<br />

esconderijos.<br />

187 A propósito de semelhante crendice, eis o que escreveu José Veríssimo, na<br />

“Rev. do Inst. Hist. e Geogr. Brasileiro” (tomo L, págs. 351-352):<br />

“De envolta com uma inteira carência de conhecimento do sistema solar, eles<br />

têm a crença astrológica, aliás partilhada por todos os povos no estado teológico,<br />

da influência, poderosa e direta, da lua sobre as coisas terrestres. Durante o<br />

eclipse deste astro, em 23 de agosto de 1877, o povo da capital do Pará fez um<br />

barulho enorme com latas velhas, foguetes, gritos, bombas, e até tiros de espingarda,<br />

para afugentar ou matar o bicho, que queira comer a lua, como explicavam semelhante<br />

cena.” E em nota: “Em Campinas (São Paulo), deu-se o mesmo fato, segundo<br />

li num jornal.”

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