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Foto: David Gómez Fontanills<br />
construção de sua Template – uma estrutura modelar,<br />
montada em 2007, para a Documenta 12, em Kassel,<br />
na Alemanha. Assim, rearranjando e ressignificando<br />
objetos arqueológicos e destroços, ele provoca não<br />
somente o governo quanto à destruição dos bens<br />
culturais de seu país, mas a todo o ocidente com<br />
sua tradição de culto aos monumentos históricos,<br />
sendo também nós convidados a refletir sobre a<br />
manutenção e usos de objetos que parecem cada vez<br />
mais frágeis, obsoletos e empoeirados.<br />
Gostaríamos, portanto, de lançar novos olhares<br />
sobre os vestígios do passado tomando como<br />
exemplo o Museu Regional do Sul de Minas, que tenta<br />
reconstituir a história do Termo da Vila de Campanha<br />
da Princesa 2 através de uma infinidade de objetos<br />
aglomerados em suas salas sombrias. Instalado<br />
no prédio do antigo Ginásio São João, um colégio<br />
internato para meninos, o MRSM foi inaugurado em<br />
29 de abril de 1992, possuindo um acervo de mais de<br />
2.000 bens móveis, em sua maioria pertencentes à<br />
coleção do antigo museu diocesano, criado pelo Bispo<br />
da Campanha, Dom Inocêncio Engelk, mediante a<br />
insistência de Monsenhor José do Patrocínio Lefort,<br />
uma espécie de antiquário e memorialista.<br />
Ao percorrermos os espaços do museu, logo<br />
nos convencemos de que estamos, de fato, em um<br />
lugar de memória, como lugar de restos. Não nos<br />
reportando aqui a um ponto de vista pessimista<br />
sobre os lugares de memória – empenhados em<br />
declarar o fim do museu da mesma forma que foi<br />
anunciado o fim da arte e da história num passado<br />
próximo –, ao contrário, buscamos nos questionar<br />
quanto aquilo que os torna tão apaixonantes, já que<br />
“os lugares de memória só vivem de sua aptidão<br />
para a metamorfose, no incessante ressaltar de<br />
seus significados e no silvado imprevisível de<br />
suas ramificações” 3 , sendo essas ramificações e<br />
metamorfoses aquilo que nos instiga nesse lugar.<br />
Não nos interessam as coleções em si, mas as<br />
Templates – arquétipos, exemplares ou modelos<br />
arranjados inconscientemente, que habitam e reforçam<br />
a natureza do museu como lugar iminentemente<br />
memorial, atraindo-nos até ele. Fragmentos, conjuntos<br />
mais atraentes formados espontaneamente,<br />
como fantasmas – formas que persistem em aparecer<br />
e surgir independentes à nossa vontade, ou da von-<br />
102 • Revista MUSAS • 2016 • Nº 7<br />
Na Documenta de Kassel (Alemanha, 2007), o artista chinês Ai Weiwei exibiu a<br />
sua obra denominada Template, feita a partir de materiais residuais, como portas<br />
e janelas de casas milenares das dinastias Ming e Qing. A escultura ruiu sob uma<br />
forte tempestade e o artista a manteve em exibição, como se observa na foto.