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suas colônias. A colonização rendeu acervos expressivos dos países<br />
colonizados colecionados em museus enciclopédicos 27 . As inúmeras<br />
viagens e pesquisas de naturalistas estrangeiros ao Brasil resultaram em<br />
minuciosos relatos de viagem, com descrições do meio físico, da fauna,<br />
da flora e dos nativos, e na remessa de importante acervo brasileiro para<br />
instituições museológicas e científicas da Europa.<br />
O estudo de indumentária de grupos indígenas, especialmente datadas<br />
do longo período que antecede a colonização europeia, encontra em<br />
coleções estrangeiras – como as do Smithsonian Institution, nos Estados<br />
Unidos 28 – talvez maior variedade e quantidade de artefatos do que<br />
coleções nacionais, sendo uma possível exceção a coleção do Museu do<br />
Índio no Rio de Janeiro onde localizamos o registro de cerca de 600 itens<br />
sob o verbete “indumentária”. As coleções de indumentária brasileira em<br />
museus estrangeiros merecem estudos específicos.<br />
É possível estudar coleções nacionais de indumentária também a partir<br />
da história dos museus brasileiros. O Museu Nacional, por exemplo, foi<br />
criado em 1818 por D. João VI como Museu Real, com um acervo inicial<br />
composto por uma pequena coleção de história natural doada pelo<br />
monarca antes de aderir à concepção de museu como lugar da ciência<br />
que aconteceu com muitos museus nacionais depois da segunda metade<br />
do século XIX 29 . Nessa concepção de museu associado à história natural e<br />
às ciências, a indumentária não teve uma representatividade como a que<br />
passou a ter em alguns museus quando a vida social e a cultura passam<br />
a ser valores importantes nas instituições museológicas. Em outras<br />
palavras, quando uma concepção mais antropológica de patrimônio<br />
ocupa a museologia é que a indumentária passa a fazer mais sentido<br />
como categoria de acervo.<br />
Isto não significa que os museus no Brasil não tenham mantido têxteis<br />
e indumentária em seus acervos. Ao contrário, já que a plumária, peles<br />
de animais, ornamentos feitos em uma diversidade de materiais como<br />
a cerâmica e miçangas, contas de sementes faziam parte do universo<br />
das ciências naturais. Aliás, antigos modos de pensamento reiteram<br />
práticas em museus que podem mascarar a presença de indumentária<br />
nos acervos. O próprio Museu Nacional pode ser o exemplo. Numa visita<br />
“O resultado tem<br />
sido a reprodução<br />
de discursos<br />
históricos sobre<br />
a moda (mais<br />
do que sobre<br />
indumentária)<br />
com pouca<br />
contribuição<br />
para a área de<br />
pesquisa (...).”<br />
27. JULIÃO, Letícia. Apontamentos sobre a<br />
história do museu. In: Caderno de Diretrizes<br />
Museológicas. s 1. Brasília: Ministério da<br />
Cultura / Instituto do Patrimônio Histórico e<br />
Artístico Nacional / Departamento de Museus<br />
e Centros Culturais, Belo Horizonte: Secretaria<br />
de Estado da Cultura / Superintendência de<br />
Museus, 2006. 2 a Edição, p. 21. Disponível em:<br />
http://www.cultura.mg.gov.br/files/Caderno_<br />
Diretrizes_I%20Completo.pdf.<br />
28. Smithsonian Institution. O Brasil na<br />
Smithsonian: um levantamento da presença<br />
do Brasil nas coleções da Instituição<br />
Smithsonian, 2003.<br />
29. Julião, op.cit., p. 21.<br />
21 • Revista MUSAS • 2016 • Nº 7