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Musas7

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o passado. Na realidade, o passado nesse momento<br />

não era visto como um produto de uma prática<br />

narrativa ou discursiva, mas como um dado objetivo<br />

que poderia ser apreendido a partir da identificação<br />

de objetos e recriados a partir das cenografias<br />

museográficas. É o que podemos observar a partir<br />

do trecho extraído do Relatório de Gestão, do ano de<br />

1975, página 30, que diz:<br />

O Departamento de Museologia, responsável pela orientação<br />

técnica dos Museus Joaquim Nabuco, de Arte Popular e de<br />

Antropologia, os quais receberam, no ano de 1975, um total de<br />

8.180 visitantes, desenvolve um trabalho de maior relevância<br />

dentro das atividades culturais exercidas pelo IJNPS. Atuando<br />

de maneira dinâmica e entendendo que o museu deve ser<br />

uma força viva a serviço das comunidades, cabendo-lhe,<br />

assim, levar a essas comunidades, como complementação<br />

pedagógica da educação formal, mensagens didáticas<br />

capazes de lhes despertar o interesse pelos nossos valores<br />

históricos, artísticos e culturais 9 .<br />

A partir desse trecho, podemos identificar a inserção<br />

dos museus no cotidiano da cidade, sobretudo<br />

pelo elevado quantitativo de público visitante 10 para<br />

a época, além também da perspectiva educativa que<br />

é atribuída aos museus; contudo, o público, principalmente<br />

as comunidades, são colocadas como hipossuficientes<br />

e alienadas com relação aos “[...] nossos<br />

valores históricos, artísticos e culturais” 11 .<br />

Reitera-se com essa passagem o lugar do museu<br />

como espaço de salvação do passado e do futuro, visto<br />

que a população, “leiga do seu passado”, depende<br />

da instituição museal para tomar consciência de sua<br />

condição. “O povo se torna, portanto, uma noção<br />

central para todos os discursos do período, vindo<br />

sempre associada à própria ideia de nação ou de<br />

nacionalidade” 12 .<br />

Assim, a exaltação memorialista do passado,<br />

acompanhada de referências aos sujeitos comuns, a<br />

partir do uso do termo popular, para expressar aspectos<br />

folclóricos, de exaltação dos folguedos, romantização<br />

da cultura e estereotipização do “exotismo”<br />

das práticas indígenas e afro-brasileiras também são<br />

comuns nas práticas realizadas pelo Demu em particular<br />

e pelo IJNPS em geral. Especialmente, porque<br />

o folclore, a cultura popular, assim como a região<br />

Nordeste, precisam de defesa. Pois,<br />

O Nordeste é uma região que precisa de defesa. Não<br />

será mera coincidência que a maior parte dos folcloristas<br />

nordestinos pertence a famílias tradicionais da região, faz<br />

parte dos clãs políticos que dominaram, por certo tempo,<br />

a política de seus estados, chegando muitos deles a fazer<br />

parte da administração pública em postos de comando. [...]<br />

Manter e defender o folclore regional, a cultura regional,<br />

passa a ser uma forma também de militância política<br />

9. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA. Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais. Relatórios do exercício de 1975. Recife, s/pág. 1976. p. 30. [Trabalho<br />

não publicado, Arquivo Presidência].<br />

10. O quantitativo de público é bastante expressivo, contudo não há uma sistematização de como esses dados foram coletados, se dizem respeito ao quantitativo<br />

anual individual de cada museu ou se figuram como somatório de público dos museus do IJNPS, se fazem referência a um único ano ou se são o resultado de<br />

vários anos de apuração. Ainda assim, algumas questões se evidenciam, a primeira é que o grande público dos museus foi e continua sendo o escolar, aquele<br />

formado pelas escolas, sobretudo da rede pública, e que não visita espontaneamente os museus; o segundo ponto é que o quantitativo de público visitante é<br />

sempre utilizado como argumento de produtividade para a administração pública como forma de demonstrar o resultado quantitativo, mas não necessariamente<br />

qualitativo das ações realizadas.<br />

11. Idem, 1974, p. 32.<br />

12. ALBUQUERQUE JR., Durval Muniz de. Op.cit. p. 47.<br />

53 • Revista MUSAS • 2016 • Nº 7

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