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e vocês somos amazonenses e jamais nos conheceríamos se não fosse<br />
esse sítio. Eu queria entender o que vocês acham. Nós da universidade<br />
achamos que vocês são o diabo. Vocês só pensam em lucro e pensam<br />
que nós somos pentelhos que queremos obstaculizar o desenvolvimento<br />
econômico, o crescimento. E aí nós, apesar de vivermos no mesmo<br />
tempo histórico, jamais cruzaríamos nossos caminhos se não fosse esse<br />
cemitério. Nós estamos aqui juntos por causa desse cemitério indígena.<br />
E eu estou tentando entender por que vocês destruíram isso. Isso não é<br />
só importante para os índios. A chave para a ocupação da Amazônia está<br />
nesses milênios que ela foi ocupada. Tem um saber que foi produzido.<br />
Então para os filhos de vocês, para os netos de vocês, é importante que a<br />
gente se aproprie desse conhecimento e o que tinha lá eram documentos<br />
que permitiriam que a gente discutisse como que era e vocês vêm e<br />
destroem isso. Queria entender o porquê”. E o Pauderley Avelino deu<br />
uma resposta que eu, como amazonense, sabia que era correta. Eu fiz<br />
uma exposição sobre arqueologia na Amazônia, que foi uma outra coisa<br />
em que eu me meti. Li tudo sobre arqueologia na Amazônia, tudo que<br />
eu podia. O Donald Lathrap, a Anna Roosevelt, a Betty Meggers. Eu fiz<br />
uma síntese para eles. Ele disse: “Professor, o jornalista é injusto, mas o<br />
professor de História aqui, o conferencista foi perfeito. Eu queria lhe dizer<br />
o seguinte: nós pensávamos que era lixo. Eu fiz a minha escolaridade<br />
em Eirunepé, vim fazer o segundo grau aqui no Colégio Estadual do<br />
Amazonas, me formei em Engenharia pela Universidade do Amazonas,<br />
estudei na Escola Técnica Federal do Amazonas. Nunca ninguém me<br />
disse isso. Eu moro em Manaus, eu leio jornal, eu assisto televisão,<br />
nunca ninguém me disse que isso era importante. É a primeira vez que<br />
estou ouvindo. Para mim, isso daí era lixo”. E eu sabia que ele podia até<br />
ter acesso a outro tipo de informação, mas eu não podia constestar o<br />
que ele estava falando porque era verdade. A escola se omite, a mídia<br />
se omite, os museus se omitem. Aí eu disse: “Não é incompatível a<br />
proposta de vocês com transformar isso num museu a céu aberto, num<br />
museu de arqueologia a céu aberto”. Ali eu usei o raciocínio que podia<br />
tocar ele porque isso vai gerar riqueza, porque se você cria um museu<br />
aqui as pessoas vêm visitar o museu, vão vir turistas, vai ter que ter<br />
195 • Revista MUSAS • 2016 • Nº 7