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Musas7

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“Você passa<br />

debaixo dos Arcos<br />

da Lapa e não tem<br />

uma referência<br />

de que aquilo foi<br />

construído pelo<br />

trabalho indígena.<br />

É um processo de<br />

apagamento.”<br />

restaurante, transporte, táxi, vai gerar emprego, aquele raciocínio que<br />

eles compreendem. Terminei de falar e o antropólogo, formado aqui<br />

pela UFF, diz: “Não, não é compatível!”. Ali quem me salvou foi um índio.<br />

Depois fomos dali eu, ele, o procurador, a Bernardete. E eu disse: “Rapaz,<br />

eu falei o que eu acho. Eu acho que é compatível. Agora, mesmo que eu<br />

achasse que era incompatível, você devia estar me parabenizando de<br />

ter convencido esses caras de que é compatível. Quando eu escrevo no<br />

jornal toda semana, eu escrevo em meu nome, eu saio para a porrada<br />

com eles. Mas aqui eu não estou falando no meu nome. Eu não posso<br />

alimentar o ódio deles em relação aos índios, o desconhecimento deles<br />

em relação aos índios. Manaus tem 2.000.000 de habitantes. Se tivesse<br />

200 pessoas gritando ‘Queremos um museu a céu aberto! Queremos um<br />

museu a céu aberto!’, eu chutava a canela desses caras, mas não tem. É<br />

um processo de luta”. Aquele momento não era de dar porrada neles, era<br />

um momento da conversa, do diálogo. O que eu acho que a gente perde<br />

nessa militância. A gente acaba virando fanático e perde a perspectiva<br />

de que você tem que convencer o outro. É como agora com relação ao<br />

impeachment. Então eu acho que a chave – isso o Shelton Davis, que foi<br />

um antropólogo americano muito importante que escreveu As vítimas de<br />

um milagre, ele diz isso –, a chave da ocupação da Amazônia está nesses<br />

conhecimentos tradicionais. Não que a gente vai fazer exatamente o<br />

que os índios fizeram, mas se a gente incorporar esses conhecimentos<br />

com as tecnologias que se tem de equilíbrio, de respeito. Aquilo que o<br />

Darrell Posey, outro antropólogo americano importante, que trabalhou<br />

com os Kayapó, mostra. Eu vou dar um exemplo: a nossa ministra da<br />

Agricultura, Kátia Abreu, defende o agronegócio, o uso dessas porcarias<br />

de agrotóxicos etc. O Darrell Posey mostra, por exemplo, aquilo que<br />

o Mario de Andrade dizia no Macunaíma, que os males do Brasil são a<br />

formiga, a saúva, que atacavam as roças dos Kayapó. Só que mostra<br />

também que eles descobriram que as formigas odeiam o cunaru, que<br />

segrega uma seiva da qual as formigas querem distância. Quer dizer, é<br />

um conhecimento que pode ser útil não necessariamente para cercar as<br />

plantações de soja com o cunaru. Mas, digamos, existem alternativas<br />

que não são só essas do mercado, do agronegócio, do lucro. Existe a<br />

196 • Revista MUSAS • 2016 • Nº 7

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