18.08.2017 Views

Musas7

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

que estava lendo, parou o livro – eu fiquei muito orgulhoso disso – o Beto<br />

parou o livro e disse: “O Bessa é um humanista, coisa que não se forma<br />

mais”. É um pouco isso. Eu fiquei muito orgulhoso com essa definição. Eu<br />

também digo para meus alunos – eu trabalho com narrativas indígenas<br />

na pós-graduação – e tem uma disciplina nova, interdisciplinar, que é a<br />

narratologia. Vou começar a me apresentar como narratólogo, né? Mas<br />

é isso!<br />

MUSAS: Professor, em seu artigo “A descoberta do museu pelos<br />

índios”, você escreveu que “algumas expressivas lideranças indígenas<br />

descobriram que museus são potencialmente explosivos”. Os museus<br />

comunitários, de maneira geral, e especificamente os indígenas,<br />

seguem tendo a força de catalisar movimentos comunitários? Como<br />

você vê tal campo atualmente?<br />

BF: Eu acho que sim. Isso depende também do momento, do lugar. No<br />

México, eu participei de um seminário sobre museus alternativos. O<br />

seminário foi em duas cidadezinhas, uma ao lado da outra, Jala e Ixtlán<br />

del Río. São duas cidadezinhas pequenas do estado de Nayarit, no México.<br />

O Minom queria realizar o seminário na cidade de Tepic, que é a capital<br />

de Nayarit. O pessoal dos museus comunitários disse: “Não. Tem que<br />

ser aqui em Jala e Ixtlán del Río!”. E o Minom [Movimento Internacional<br />

por uma Nova Museologia] disse: “Mas como se não tem uma estrutura<br />

para hospedar, se não tem hotel?”. E eles disseram: “Nós hospedamos<br />

em nossas casas!”. Eu fiquei hospedado na casa de uma família, que me<br />

acolheu lá, que me dava café da manhã, comida, dormida e a todos nós.<br />

E foi muito interessante a discussão porque apareceu lá uma mulher<br />

Zacateca que contou, antes de contar a história do museu, a história<br />

da ocupação que eles fizeram. Eram sem-terra, sem-teto e resolveram<br />

tomar uma área que existia para construir suas casas. Tomaram a área e,<br />

na primeira assembleia para dividir os lotes, foram unânimes quanto ao<br />

lugar mais nobre que era no alto de um morrinho: “Esse lugar não está<br />

para ser loteado, esse lugar é para construir o nosso museu!”. Eu fiquei<br />

impressionado com essa história. Olha só, sem-terra, sem-teto. Essa<br />

“Essa instituição<br />

museu, que era<br />

desconhecida<br />

pelos índios,<br />

quando eles<br />

tomaram essa<br />

instituição, eles<br />

ressignificaram<br />

e redefiniram.”<br />

175 • Revista MUSAS • 2016 • Nº 7

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!