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Musas: Como se deu sua aproximação com o<br />
mundo dos ecomuseus?<br />
Terezinha: Então, nascida em Belém (PA), sou da<br />
área da educação. Fiz a graduação na Universidade<br />
Federal do Pará (UFPA), no curso de Letras e<br />
Pedagogia, e fiz concurso para a prefeitura e para o<br />
governo estadual. Inicialmente concursada para o<br />
estado e depois para a prefeitura, eu conheci uma<br />
senhora, que se chamava Laís Fontoura Aderne 1 ,<br />
que foi desenvolver um trabalho em Belém, no<br />
distrito de Icoaraci. Ela criou um projeto para uma<br />
escola chamada Liceu Mestre Raimundo Cardoso.<br />
A Laís fazia um trabalho social com as pessoas do<br />
local daquela escola, ela valorizava o saber e o fazer<br />
daquelas pessoas, daquelas comunidades. Então<br />
eu fui trabalhar com essa senhora chamada Laís<br />
Aderne, isso em 1996. Nessa escola nós fizemos uma<br />
pesquisa e descobrimos que havia 600 ceramistas<br />
em um bairro desse distrito. Ela achou aquilo um<br />
fenômeno sociológico e nós íamos trazer para dentro<br />
da escola aquelas pessoas, trazer a cerâmica para<br />
dentro da escola, os alunos iam conviver com aquele<br />
trabalho. A partir daí a gente começou a trabalhar<br />
com a questão social, começamos a contextualizar o<br />
trabalho da escola-comunidade, a partir da realidade<br />
deles. Essa pessoa já tinha uma experiência, era<br />
professora da Universidade de Brasília (UnB), já<br />
desenvolvia em algumas cidades de Goiás, como<br />
Alexânia, Abadiânia e Santo Antonio do Descoberto.<br />
1. Laís Fontoura Aderne Faria Neves (1937-2007). Mineira, natural de<br />
Diamantina, foi artista, arte-educadora e professora da UnB na área de<br />
cultura e sociedade, e, como presidente do Instituto Huah do Planalto<br />
Central, também idealizadora do Projeto Ecomuseu do Cerrado.<br />
Um desses trabalhos era em um local chamado Olhos<br />
d’Água, na cidade de Alexânia, um trabalho social<br />
desde 1972, por coincidência no ano que foi criado o<br />
termo “ecomuseu”. Ela já fazia aquele trabalho com as<br />
comunidades visando a questão da sustentabilidade<br />
e a melhoria de vida delas. Ela criou a feira de trocas<br />
nesse lugar, que era para fazer essa troca do fazer<br />
das comunidades com aquilo que a cidade, a área<br />
urbana, tinha. Então, em Belém ela foi fazer esse<br />
mesmo trabalho e eu me identifiquei muito com ele.<br />
Depois ela foi embora, em 1998, e criou no cerrado,<br />
em sete municípios, o Ecomuseu do Cerrado. E eu<br />
fiquei em contato com ela. Depois eu vim estudar em<br />
Brasília, ela me incentivou a estudar, para que então<br />
eu voltasse para minha cidade e ajudasse as pessoas<br />
de lá, principalmente porque vivo na Amazônia,<br />
na área ambiental. Então vim fazer mestrado<br />
em Brasília, na Universidade Católica, na área de<br />
Planejamento e Gestão Ambiental. Fiz a minha<br />
pesquisa, a minha dissertação de mestrado, com<br />
enfoque no Ecomuseu do Cerrado. Posteriormente,<br />
fiz o doutorado no Pará, na ilha de Cotijuba, já no<br />
território do Ecomuseu da Amazônia, em Gestão<br />
Integrada de Recursos Naturais, enfocando também<br />
uma parte do território do Ecomuseu. E aí nasce<br />
minha participação nos ecomuseus, a partir da<br />
convivência com a Laís Aderne. Ela retorna em<br />
2005 para Belém, foi chamada novamente para<br />
ser consultora, mudou a prefeitura, e ela falou<br />
que devíamos retomar aquele trabalho social que<br />
tínhamos feito. No mesmo ano, em Belém, ela fez<br />
uma palestra para aquelas comunidades com quem<br />
tínhamos iniciado um trabalho na década de 1990,<br />
e falou da experiência do Ecomuseu do Cerrado. As<br />
225 • Revista MUSAS • 2016 • Nº 7