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Musas7

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A primeira parte do livro, intitulada “Conceitos”, reúne apontamentos<br />

críticos para termos como influência, origem, matriz, identidade, memória,<br />

pós-colonialismo e língua. Tais conceitos servem como uma base teórica<br />

de caráter introdutório à segunda parte do livro, “Discursos e percursos”,<br />

que condensa estudos aplicados em diferentes disciplinas. São narrativas<br />

literárias em língua portuguesa, discursos historiográficos, antropológicos<br />

e arquitetônicos, assim como imagens provindas do cinema, da fotografia<br />

e do desenho que problematizam a noção hegemônica de patrimônio,<br />

aqui e por nossa conta, deliberadamente no singular.<br />

Talvez pluralizar o patrimônio seja a maior lição e herança do livro, ao<br />

menos quando inserido no contexto patrimonial brasileiro: refletir sobre<br />

as possibilidades de políticas de patrimônio não justificadas apenas<br />

pela importância de um passado unívoco que supostamente nos une,<br />

mas sim na constituição de um futuro sustentável e partilhado junto às<br />

comunidades que diferentes passados e memórias possuem. A proposta<br />

parece ser eliminar a percepção de matriz patrimonial – uma genealogia<br />

formal de difusão de uma origem demarcada – para se aproximar à ideia<br />

de influências 2 fluidas nas trocas e nas resistências que daí resultam<br />

hibridações culturais múltiplas.<br />

Uma entrevista aberta e bastante crítica realizada pelos organizadores<br />

a Eduardo Lourenço – renomado ensaísta, crítico literário e professor<br />

português radicado na França – entremeia as duas partes do livro e<br />

evidencia a perspectiva multidimensional dos patrimônios. A conversa<br />

gira em torno de temas como o império português, as navegações,<br />

viajantes e encontros, a relação entre patrimônios e ideologias religiosas<br />

e os processos de independências africanas.<br />

De partida, na introdução assinada pelos organizadores, explicita-se<br />

a escolha por uma metodologia de investigação marcadamente política:<br />

para identificar e analisar as influências portuguesas no patrimônio de<br />

além-mar, é necessário percorrer os feitos – e efeitos – da expansão<br />

marítima portuguesa, seu contexto de formulação de desigualdades<br />

2. “Na sua origem, a palavra remete para uma espécie de fluxo ou fluido etéreo que se considerava<br />

emanado dos astros e que atuava sobre os seres animados e inanimados” (p. 48).<br />

297 • Revista MUSAS • 2016 • Nº 7

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