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visibilidade às outras línguas que são faladas nesse país. Essas línguas<br />
são línguas vivas, elas estão sendo faladas hoje. É isso, é esse o olhar<br />
desse Guarani que me acompanhou na exposição. São línguas vivas, e<br />
9. Aryon Rodrigues (1925-2014), linguista<br />
brasileiro considerado um dos pioneiros no<br />
estudo das línguas indígenas da América<br />
do Sul.<br />
não necessariamente, como querem, são línguas moribundas. O Aryon<br />
Rodrigues 9 fala em línguas anêmicas e não moribundas. Anêmicas significa<br />
que estão precisando de fortificante, mas não que necessariamente vão<br />
morrer. Porque quando você chama de moribunda você já decretou a<br />
morte em termos imediatos. E o que nós estamos dizendo é que não. Tem<br />
um espaço de resistência dependendo do tipo de políticas, de políticas de<br />
língua, de escola, de museus. Museus teriam essa função.<br />
MUSAS: Em seu trabalho o senhor nos mostra que na América de<br />
colonização espanhola já há uma tradição muito maior de incorporação<br />
da tradição oral à historiografia tradicional, digamos assim, e que na<br />
África há centros de pesquisa da tradição oral dos povos africanos.<br />
Partindo do pressuposto que a morte de uma língua é a morte de<br />
um mundo, como o senhor vê a perspectiva de respeitar e valorizar a<br />
diversidade linguística brasileira por essa via?<br />
BF: Eu acho que já existe um movimento na universidade. Aliás, seria<br />
“Eu lembro quando<br />
o Darcy Ribeiro<br />
criou em 1950 e<br />
pouco o Museu<br />
do Índio, ele disse:<br />
‘Um museu a favor<br />
de nada é um<br />
museu contra o<br />
preconceito!”<br />
interessante em outro número de MUSAS entrevistar o José Jorge de<br />
Carvalho, Professor da UnB que está trabalhando com o Ministério<br />
da Ciência e Tecnologia o lugar dos saberes tradicionais, dos saberes<br />
orais na universidade. A universidade, como a gente já viu aqui, está de<br />
costas para isso daí. Eu traduzi um autor alemão – não falo alemão, ele<br />
fez a conferência em francês – e a UERJ publicou: o Theodor Berchem.<br />
Theodor Berchem era reitor de uma universidade na Alemanha e, no<br />
início dos anos 1990, ele deu a conferência de abertura de um encontro<br />
mundial de reitores. E o texto dele foi “A missão cultural da universidade”.<br />
Olha o que ele diz que eu acho importante também para a discussão do<br />
museu: “A universidade vive uma contradição: tem um compromisso<br />
com a ciência que aspira a universalidade, mas toda universidade está<br />
localizada dentro de uma cultura que é particular”. Aí ele diz: “Isso produz<br />
tensão!”. Para chegar ao universal, é importante que haja esse diálogo<br />
186 • Revista MUSAS • 2016 • Nº 7