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Musas7

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chamando anta de elefante. E mutum de pavão. E o pajuaru, o caxiri, ele<br />

chamou de cerveja. Então é um desafio para nós. Por que é um desafio<br />

para nós? Porque sem as ciências produzidas inclusive fora do Brasil você<br />

não dá conta da Amazônia, mas só com elas você também não dá. Então<br />

você tem que dar uma contribuição inovadora. E aí é um problema em<br />

termos de nossa formação teórica, intelectual. Eu me dei conta e passei<br />

a estudar. Aí eu dei um pulo em vez de estudar o proletariado agrícola,<br />

a organização da força de trabalho indígena na Amazônia colonial.<br />

MUSAS: Foi então seu primeiro estudo, sua primeira aproximação<br />

intelectual aos indígenas?<br />

BF: Isso. Porque ali eu, como professor da Universidade do Amazonas,<br />

peguei alunos meus de graduação, todos doutores hoje em História e<br />

nós publicamos um livro que se chama A Amazônia no período colonial,<br />

que é um livro de que já saíram umas oito edições. Na verdade, esse livro<br />

nasceu assim: uma jornalista da Universidade de Brasília, que depois<br />

foi para Brasília, mas era jornalista em Manaus, me pediu para escrever<br />

pro jornal e aí eu coloquei como condição que fosse um autor coletivo.<br />

Tinha sido aprovado que história do Amazonas entraria no vestibular. Não<br />

tinha nenhum texto sobre isso. Peguei o material que tinha levantado<br />

para minha tese e fui publicando. Tanto que a primeira edição saiu bem<br />

artesanal. Com o grupo de amigos então nós publicamos A Amazônia no<br />

período colonial recolocando os índios na história da região. Depois disso,<br />

eu fiz minha tese de doutorado sobre a história das línguas na Amazônia,<br />

mais propriamente da língua-geral, Rio Babel. Passei a ter um interesse<br />

mais específico sobre a língua que está relacionado com essa questão<br />

da organização da força de trabalho. Eu analiso as políticas de línguas e<br />

seu resultado para a Amazônia. Em última análise, eu procuro mostrar<br />

ali como e quando nós amazonenses passamos a falar português. Eu<br />

publiquei um quadro de deslocamento de línguas na Amazônia, que me<br />

deu uma trabalheira danada. Ele está bem esquemático aqui, mas me deu<br />

uma trabalheira entender o que tinha acontecido. Nos séculos XVI e XVII,<br />

os índios estavam nas suas aldeias de origem. Eles eram considerados<br />

“Em 1860 e pouco,<br />

a Província do<br />

Ceará, o Governo<br />

da Província do<br />

Ceará, através<br />

de decreto disse:<br />

‘Não tem mais<br />

índio no Ceará!’.<br />

E estava cheio de<br />

grupos indígenas<br />

no Ceará, que<br />

foram submetidos<br />

a um processo<br />

de espoliação<br />

de terras, de<br />

repressão, que<br />

se camuflaram.<br />

Ficaram como<br />

índios camuflados.”<br />

183 • Revista MUSAS • 2016 • Nº 7

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