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Musas7

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A proposta do Projeto, então, não pretendia conceber<br />

e ensinar caminhos pedagógicos de apreensão<br />

do conhecimento entre museu e escola, mas<br />

propor outras formas de se caminhar. Ao relacionar<br />

educação patrimonial e trabalho a partir de lugares<br />

de referências e de memória, impulsionava-se<br />

o debate sobre a patrimonialização de determinados<br />

lugares. E a Estação da Memória era um marco<br />

referencial do patrimônio ferroviário da região de<br />

Joinville. Antes mesmo de reabrir ao público como<br />

espaço de memória, os trabalhadores ferroviários já<br />

a visitavam com frequência. Depois da inauguração<br />

do espaço musealizado como Complexo Cultural,<br />

esse fluxo aumentou consideravelmente. A Estação<br />

evocava, desde sua criação, novas possibilidades<br />

e indagações sobre a dimensão patrimonialista da<br />

cidade e do trabalho. Então, perceber a função dialógica<br />

desse espaço e sua múltipla dimensão de<br />

patrimônio cultural era necessário.<br />

A edificação tombada e restaurada provocava<br />

lembranças naqueles que utilizaram esse lugar como<br />

fonte de sobrevivência por meio da venda da força<br />

de trabalho. Se uma das funções da escola é perceber<br />

as apropriações históricas de ocupação humana em<br />

diferentes períodos de produção de conhecimento, o<br />

trabalho como elemento fundante da relação homem e<br />

natureza cria seus primeiros vestígios de materialidade<br />

na história, grande parte deles compondo nossos<br />

museus de história, coloniais ou não.<br />

Já a educação, para Demerval Saviani 2 , compre-<br />

“A Estação evocava, desde sua<br />

criação, novas possibilidades<br />

e indagações sobre a dimensão<br />

patrimonialista da cidade e<br />

do trabalho.”<br />

ende a apreensão e a transformação que o homem<br />

faz da natureza para a criação dos seus meios de subsistência.<br />

Ou seja, ao produzir seus meios de sobrevivência,<br />

o homem produz também o conhecimento.<br />

A reprodução e a manutenção desse conhecimento<br />

seriam o processo educativo, pois o processo educativo<br />

é dialógico e dialético e não limita-se ao<br />

ambiente escolar.<br />

Para Saviani, o processo educativo está inserido<br />

no processo de trabalho, como as transformações da<br />

natureza são modificações do meio ambiente, que<br />

intrinsecamente compreendem alterações do ser<br />

humano pelo trabalho conforme suas necessidades<br />

históricas.<br />

A proposição do Projeto corroborava com essa<br />

conceituação teórica de Saviani, porque, ao mesmo<br />

tempo que, epistemologicamente, o conceito de cultura<br />

é múltiplo e um vocábulo é construído historicamente,<br />

como debate Reinhart Koselleck, a história<br />

dos conceitos e a história social são diacrônicas.<br />

Marilena Chaui 3 adverte que a palavra cultura vem<br />

do verbo latim colere, que significa cuidar, cultivar,<br />

2. SAVIANI, Demerval. Pedagogia histórico crítica: primeiras aproximações. 7 a ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2000. (Polêmicas do Nosso Tempo, 40).<br />

3. CHAUI, Marilena. Direito à memória: natureza, cultura, patrimônio histórico-cultural e ambiental. In: . Cidadania cultural: o direito à cultura. São<br />

Paulo: Ed. Fundação Perseu Abramo, 2006. p. 103-127.<br />

90 • Revista MUSAS • 2016 • Nº 7

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