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A proposta do Projeto, então, não pretendia conceber<br />
e ensinar caminhos pedagógicos de apreensão<br />
do conhecimento entre museu e escola, mas<br />
propor outras formas de se caminhar. Ao relacionar<br />
educação patrimonial e trabalho a partir de lugares<br />
de referências e de memória, impulsionava-se<br />
o debate sobre a patrimonialização de determinados<br />
lugares. E a Estação da Memória era um marco<br />
referencial do patrimônio ferroviário da região de<br />
Joinville. Antes mesmo de reabrir ao público como<br />
espaço de memória, os trabalhadores ferroviários já<br />
a visitavam com frequência. Depois da inauguração<br />
do espaço musealizado como Complexo Cultural,<br />
esse fluxo aumentou consideravelmente. A Estação<br />
evocava, desde sua criação, novas possibilidades<br />
e indagações sobre a dimensão patrimonialista da<br />
cidade e do trabalho. Então, perceber a função dialógica<br />
desse espaço e sua múltipla dimensão de<br />
patrimônio cultural era necessário.<br />
A edificação tombada e restaurada provocava<br />
lembranças naqueles que utilizaram esse lugar como<br />
fonte de sobrevivência por meio da venda da força<br />
de trabalho. Se uma das funções da escola é perceber<br />
as apropriações históricas de ocupação humana em<br />
diferentes períodos de produção de conhecimento, o<br />
trabalho como elemento fundante da relação homem e<br />
natureza cria seus primeiros vestígios de materialidade<br />
na história, grande parte deles compondo nossos<br />
museus de história, coloniais ou não.<br />
Já a educação, para Demerval Saviani 2 , compre-<br />
“A Estação evocava, desde sua<br />
criação, novas possibilidades<br />
e indagações sobre a dimensão<br />
patrimonialista da cidade e<br />
do trabalho.”<br />
ende a apreensão e a transformação que o homem<br />
faz da natureza para a criação dos seus meios de subsistência.<br />
Ou seja, ao produzir seus meios de sobrevivência,<br />
o homem produz também o conhecimento.<br />
A reprodução e a manutenção desse conhecimento<br />
seriam o processo educativo, pois o processo educativo<br />
é dialógico e dialético e não limita-se ao<br />
ambiente escolar.<br />
Para Saviani, o processo educativo está inserido<br />
no processo de trabalho, como as transformações da<br />
natureza são modificações do meio ambiente, que<br />
intrinsecamente compreendem alterações do ser<br />
humano pelo trabalho conforme suas necessidades<br />
históricas.<br />
A proposição do Projeto corroborava com essa<br />
conceituação teórica de Saviani, porque, ao mesmo<br />
tempo que, epistemologicamente, o conceito de cultura<br />
é múltiplo e um vocábulo é construído historicamente,<br />
como debate Reinhart Koselleck, a história<br />
dos conceitos e a história social são diacrônicas.<br />
Marilena Chaui 3 adverte que a palavra cultura vem<br />
do verbo latim colere, que significa cuidar, cultivar,<br />
2. SAVIANI, Demerval. Pedagogia histórico crítica: primeiras aproximações. 7 a ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2000. (Polêmicas do Nosso Tempo, 40).<br />
3. CHAUI, Marilena. Direito à memória: natureza, cultura, patrimônio histórico-cultural e ambiental. In: . Cidadania cultural: o direito à cultura. São<br />
Paulo: Ed. Fundação Perseu Abramo, 2006. p. 103-127.<br />
90 • Revista MUSAS • 2016 • Nº 7