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“Para Foucault, os museus<br />
podem ser classificados como<br />
lugares heterotópicos, em que<br />
prevalece uma heterotopia<br />
acumulativa de tempo.”<br />
Ao focalizarmos o processo, e não apenas o<br />
produto, a exposição, teremos um panorama não só<br />
da construção discursiva, mas da ressonância desse<br />
discurso que depende de uma relação dialógica<br />
com o outro, o público. O que nos leva a pensar nos<br />
sistemas de inteligibilidade museais, ou seja, quais<br />
são os postulados e as práticas que orientam o fazer<br />
museológico? A que sistema interpretativo o museu<br />
está condicionado? Isso demonstra não só que o<br />
museu opera os enunciados a partir de seleções,<br />
mas que sobre tais escolhas implicam condições de<br />
produção e de recepção.<br />
Entretanto, o que ocorre é que, por sua relação<br />
explícita com a memória, os museus apresentam suas<br />
narrativas expográficas de forma demasiado natural,<br />
como se aqueles lugares, objetos, sujeitos e práticas<br />
que habitam as exposições fossem intrínsecos à<br />
sociedade, sendo esse movimento interrogativo aos<br />
museus ainda muito recente.<br />
Contudo, é nesse mesmo sentido que em algumas<br />
ocasiões a sociedade perde de vista as relações de<br />
poder que suscitam do fazer museológico, e como tais<br />
relações produzem e fazem circular representações<br />
e categorias de pensamento que, sem a devida<br />
crítica, são assimiladas, não como uma possibilidade<br />
narrativa, mas como a real e irrevogável condição de<br />
existência dos discursos produzidos nos museus.<br />
Juliana da Costa Ramos é Mestra em História Social da<br />
Cultura Regional (2013) pela Universidade Federal Rural de<br />
Pernambuco.<br />
Para que uma série de signos exista, é preciso ― segundo<br />
o sistema de causalidades ― um “autor” ou uma instância<br />
produtora. Mas esse “autor” não é idêntico ao sujeito do<br />
enunciado. E a relação de produção que mantém com a<br />
formulação não pode ser superposta à relação que une o<br />
sujeito enunciante e o que ele enuncia 25 .<br />
Essa afirmação desvela as chamadas assimetrias<br />
de produção, no sentido de que um lugar e os autores<br />
são conferidos de maior ou menor legitimidade<br />
discursiva, ou seja, o lugar e o peso do museu não só<br />
na produção, mas na difusão dos discursos.<br />
25. Idem, 2001, p. 105-106.<br />
60 • Revista MUSAS • 2016 • Nº 7