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Musas7

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“(...) o museu<br />

não é somente<br />

um espaço de<br />

conservação<br />

e exibição de<br />

obras artísticas,<br />

ele desenvolve<br />

também<br />

condições para<br />

que seja, acima de<br />

tudo, um espaço<br />

vivo e ativo.”<br />

11. LAGES, Susana Kampff. Walter Benjamin:<br />

Tradução e Melancolia – São Paulo: Editora<br />

da Universidade de São Paulo, 2007, p. 91.<br />

12. Desleitor também foi a denominação<br />

dada aos mediadores culturais da primeira<br />

edição da exposição “Frestas – Trienal de<br />

Artes”, que aconteceu no Sesc Sorocaba em<br />

2014 e da qual o autor deste texto participou<br />

como supervisor educativo. Jorge Menna<br />

Barreto foi um dos curadores do educativo<br />

desta exposição.<br />

13. BARRETO, Jorge Menna. Exercícios de<br />

Leitoria, 2012. Tese (Doutorado em Artes<br />

Visuais) – Escola de Comunicação e Arte,<br />

Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012,<br />

p. 128), p. 128.<br />

14. BENJAMIN, Walter. “O Narrador –<br />

Considerações sobre a obra de Nikolai<br />

Leskov”. Tradução Sérgio Paulo Rouanet.<br />

In: BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte<br />

e política: ensaios sobre literatura e história<br />

da cultura (Obras escolhidas v.1). São Paulo:<br />

Brasiliense, 2012, 8 Ed. revista, p. 220.<br />

15. FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler:<br />

em três artigos que se completam. 51a ed. –<br />

São Paulo: Cortez, 2011, p. 19.<br />

Mas também, historicamente desenvolvido, encontramos a proposta<br />

de tradução dos poetas concretos. Para o crítico literário Harold Bloom,<br />

essa tradução era efetivamente a realização de uma leitura forte. É um<br />

tipo de leitura que se apropria de autores antecessores, a tal ponto de<br />

modificar a leitura que será feita posteriormente pelos demais. Assim,<br />

existe uma inversão da causalidade, quando o texto atual determina a<br />

leitura dos textos antigos 11 .<br />

Jorge Menna Barreto comenta que o termo que Harold Bloom utiliza para<br />

falar dessa capacidade transgressora de leitura é chamada de misreading,<br />

e que foi traduzida por Arthur Nestrovski pelo termo desleitura 12 . Há aí a<br />

ideia do erro como parte do processo de leitura que incorpora e expande<br />

significados; Barreto coloca a leitura forte como a possibilidade de um<br />

desvio emancipador 13 .<br />

Esse desvio é então uma leitura forte que se apropria do conteúdo dado,<br />

portanto, não é submissa. É o que acontece também com a arte narrativa<br />

comentada por Walter Benjamin, em que diz que evita explicações e não é<br />

informativa. Para ele, o material é narrado com exatidão, mas o contexto<br />

psicológico da ação não é imposto ao leitor. Ele é livre para interpretar a<br />

história como quiser e com isso o episódio narrado atinge uma amplitude<br />

que falta à informação.<br />

É como se o narrador, neste caso, não estivesse lidando com um processo<br />

a que estamos bastante acostumados da informação rápida e curta. Para<br />

Benjamin, este tipo de informação só tem valor quando é nova, e não tem<br />

tempo de se explicar, enquanto a narrativa não se esgota, conservando<br />

suas forças por muito tempo e ainda sendo capaz de desdobramentos 14 .<br />

Esse contexto da narrativa que o autor traz de uma tradição oral é<br />

muito importante para pensar nos desdobramentos da relação do diálogo<br />

na transmissão das ideias. No mesmo sentido, partindo de seu contexto<br />

da alfabetização, Paulo Freire comenta que aprendemos a ler o mundo<br />

antes de ler a palavra. Para ele, a relação entre linguagem e realidade é<br />

dinâmica, considerando que a leitura crítica implica a percepção entre<br />

texto e contexto 15 .<br />

A relação com a realidade não é apresentada de uma forma passiva, mas,<br />

pelo contrário, ativa. Paulo Freire afirma que a leitura do mundo precede a<br />

156 • Revista MUSAS • 2016 • Nº 7

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