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Musas7

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antiquária, tão desmerecida pela prática historiográfica científica<br />

que começou a se consolidar no século XIX, mas tão presente em sua<br />

constituição. Que tensa operação!<br />

Sua análise parte da produção de Gustavo Barroso, especialmente<br />

seus relatos de viagem que possibilitam perceber como esse escritor<br />

cearense se deslocou no espaço para encontrar um tempo que não é o seu<br />

ao contato com “muros que o tempo enegreceu”, “casas patinadas pelo<br />

tempo e pela história”. Indícios da passagem dos séculos, sobre os quais<br />

viria a escrever em seus livros de história e nas salas do Museu Histórico<br />

Nacional que dirigiu por trinta e cinco anos.<br />

Embora a escrita de Ramos se aproxime da de um romance, de tanto<br />

prazer que nos dá a leitura dos 18 capítulos no qual está dividido o livro,<br />

a discussão por ele proposta é densa. Faz o leitor pensar nas complexas<br />

possibilidades de construção do passado. Possibilita-nos conhecer<br />

Gustavo Barroso como intelectual de múltiplas narrativas, trabalhando<br />

na fronteira entre literatura e história, entre as letras e a cultura material.<br />

E numa escrita suave e fluida, rica em reflexões teóricas e referências<br />

literárias, Ramos nos enreda nas tramas da escrita da história. Não há nós<br />

separando ou impedindo o fluxo entre história e literatura. Mas sim laços<br />

entre historiadores e literatos, eruditos e românticos que lançavam mão<br />

da emoção e da cultura material para produzir narrativas sobre o passado.<br />

Fossem narrativas de caráter científico ou ficcionais, eram escritos que não<br />

abriam mão do objeto como gerador de sensibilidades distintas sobre o<br />

pretérito e, principalmente, como comprovação do que se estava a escrever.<br />

Ramos nos mostra como a presença da matéria e da “poeira do passado”<br />

sobre ela, seja em forma de pátina ou na sujeira densa e acumulada,<br />

suscita uma percepção de tempo cara à filosofia da história, onde o<br />

tempo tripartido em passado, presente e futuro preenche a matéria<br />

de temporalidade e historicidade, elemento fundador das políticas de<br />

preservação do patrimônio. Assim, o “culto da saudade” de Gustavo<br />

Barroso é aproximado e confrontado com outras narrativas históricas,<br />

indo desde a sensibilidade antiquária e romântica até os projetos de<br />

restauração científica de Ruskin, Cesari Brandi, entre outros. O desejo de<br />

Ramos é “tratar a poeira como parte da escrita da história moderna, em<br />

293 • Revista MUSAS • 2016 • Nº 7

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