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Musas7

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agrícola no Amazonas”. Eu volto para Manaus como professor da<br />

Universidade Federal do Amazonas em 1977 e a professora Maria Yedda<br />

Linhares, historiadora e que tinha se exilado também, tinha voltado<br />

e estava dirigindo um projeto que era “Levantamento de fontes para a<br />

agricultura do Norte e Nordeste”. Como eu tinha sido aluno dela, ela<br />

me chamou para coordenar esse projeto no Amazonas. E eu entrei nos<br />

arquivos do Amazonas. E na medida que eu ia vendo a documentação,<br />

quase que eu fui flechado pelos documentos. Eu descobri que o tema da<br />

minha tese não existia. Escrevi para o meu orientador, que era o Ruggiero<br />

Romano, um grande historiador que já morreu, e disse pro Romano:<br />

“Olha, o tema da minha tese não existe”. Porque eu estava com a coisa<br />

conceitual. Eu acho que sem Marx a gente não entende a Amazônia. Mas<br />

só com Marx você não vai entender. Ele criou uma teoria e conceitos que<br />

nos ajudam muito a entender o mundo e a Amazônia com o negócio da<br />

borracha se integrou ao mundo. Mas você não pode tentar forçar a barra<br />

de categoria. Uma imagem que me choca muito foi a descida do Francisco<br />

Orellana pelo Amazonas, em 1540. O primeiro europeu que cruza o<br />

Amazonas de ponta a ponta. Ele vem com sessenta e poucos homens.<br />

E entre eles, o frei Gaspar de Carvajal, que escreve uma bela crônica. E<br />

na crônica o Carvajal disse que viu elefantes na Amazônia, que tomou<br />

cerveja, que adorou a carne de pavão. Aí se começou a dizer que o cara era<br />

7. Mário Ypiranga Monteiro (1909-2004),<br />

escritor e professor amazonense que se<br />

notabilizou por suas contribuições originais<br />

ao estudo da história do Amazonas.<br />

fantasioso, que ele tinha inventado. O Mário Ypiranga Monteiro 7 [1909-<br />

2004] foi um intelectual conservador tradicional, mas que eu acho genial e<br />

que nos ajudou muito a entender a Amazônia. Foi uma espécie de Câmara<br />

Cascudo da Amazônia. O Mário Ypiranga tem um livro em que ele chama<br />

a atenção para uma questão: na verdade, o cara não era fantasioso. O<br />

que aconteceu? O cara vem descendo o rio, para e vê provavelmente<br />

ou uma anta ou um tamanduá. Tem anta e tem tamanduá na Espanha?<br />

Não. Então ele não tem nem categoria para explicar. Aí o que ele faz?<br />

Ele pega uma categoria que é dele e que cola e é aproximativa. Claro que<br />

você nunca vai tirar marfim de uma anta, de um tamanduá, mas o que<br />

ele queria dizer é que era um animal grande, paquidérmico e que tinha<br />

uma espécie de tromba. Era aproximativo, mas não dá conta da realidade.<br />

Então eu acho que, do ponto de vista conceitual e teórico, a gente está<br />

182 • Revista MUSAS • 2016 • Nº 7

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