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“Gostaríamos,<br />
portanto, de lançar<br />
novos olhares sobre<br />
os vestígios do<br />
passado tomando<br />
como exemplo o<br />
Museu Regional do<br />
Sul de Minas, que<br />
tenta reconstituir<br />
a história do<br />
Termo da Vila de<br />
Campanha da<br />
Princesa através<br />
de uma infinidade<br />
de objetos<br />
aglomerados<br />
em suas salas<br />
sombrias.”<br />
6. COLI, Jorge. Materialidade e<br />
imaterialidade. Revista do Patrimônio<br />
Histórico e Artístico Nacional, Brasília,<br />
n. 17, 2012, p. 73.<br />
7. Idem, p. 73.<br />
Mas que lugar é esse que a preposição “entre” indica? Não apenas dois lugares, o lugar<br />
de uma imagem e de outra imagem, o lugar de uma aparência e de outra aparência.<br />
Há um terceiro lugar, uma terceira margem do rio, onde, invisíveis, imateriais, o<br />
semelhante se funde no semelhante, onde a analogia se metamorfoseia em fusão. 6<br />
Nesse processo de metamorfose, o mundo instaurado no museu passa<br />
a viver por si só, da mesma forma que o artista está na gênese da obra<br />
para Jorge Coli, no sentido de que o artista fabrica coisas expressivas. Por<br />
isso mesmo se movem no tempo silenciosamente.<br />
Assim como Didi-Huberman, Coli faz remissão a Aby Warburg e ao seu<br />
Atlas de imagens Mnemosyne, “cujo princípio comparativo criava relações<br />
intuitivas e expressivas apenas pela relação mantida entre as obras,<br />
graças à sua proximidade e disposição sobre uma prancha. É o sonho de<br />
uma história da arte por imagens, sem palavras” 7 . Um saber intuitivo que<br />
busca o que há de comum entre as formas, formas estas que habitam os<br />
resíduos que parecem estar sepultados junto ao passado. Mas que, como<br />
fantasmas, sua sobrevivência perdura no tempo.<br />
Quando subimos as escadas que dão acesso ao Museu Regional do Sul<br />
de Minas, levamos os nossos olhos curiosos a se deterem, pelo menos um<br />
instante, nos detalhes do frontão da antiga capela do Colégio São João,<br />
porta de entrada do MRSM (Fig. 1). Acompanhamos com o traçado das<br />
linhas desenhadas pelas várias rachaduras na parede, terminando em<br />
algum ponto onde fragmentos de estuque já se desprenderam de um<br />
capitel, ou de uma das cornijas. Detemo-nos, principalmente, no brasão<br />
episcopal de Dom Ferrão, primeiro bispo da diocese da Campanha,<br />
responsável por lançar a pedra fundamental do colégio de meninos.<br />
Não visualizamos mais os símbolos do escudo já praticamente todo<br />
desmanchado e desbotado, bem como o seu lema em latim, mas também<br />
não sabemos latim. E não há sentimento de nostalgia aí, somente a<br />
constatação do efeito prístino do tempo.<br />
Primeira Template<br />
Ao entrarmos pela porta da antiga capela, colocamo-nos diante da<br />
primeira coleção reunida para o museu diocesano denominado Museu<br />
Dom Inocêncio. Aliás, o ano de abertura do museu diocesano é o mesmo da<br />
104 • Revista MUSAS • 2016 • Nº 7