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Musas7

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via políticas da diferença, a concretização dos esforços colonizadores e<br />

civilizadores do Império e as condições de assimilações e reformulações<br />

culturais ao longo dos períodos colonial e pós-colonial.<br />

Sintomaticamente, a seção historiográfica da publicação se inicia com<br />

uma epígrafe do texto “Caminhando para uma outra história”, de Lucien<br />

Febvre. Ao invés da perspectiva hegemônica que situa discursivamente<br />

um centro (Europa) em relação de poder superior às periferias, investe-se<br />

num modelo de história global e, nesse caso específico dos patrimônios<br />

de influência portuguesa, numa história atlântica 3 . Com isso, termos<br />

como Estado-Nação, colônia e colonos entram em crise e, no lugar deles,<br />

aparece a ideia de rede, afirmando-se por meio de uma abordagem que<br />

admite histórias conectadas e autoridades negociadas. Como bem lembra<br />

Luis Felipe de Alencastro, citado no livro por Maria Fernanda Bicalho,<br />

“as duas partes unidas pelo oceano se completam num só sistema de<br />

exploração colonial” (p. 291).<br />

Editado no Brasil apenas dois meses após o seu lançamento, o livro ativa<br />

uma das proposições mais fundamentais que orienta e se faz presente<br />

em todos os capítulos: a noção de influência portuguesa. Trata-se de um<br />

amplo e dialógico sistema,<br />

“(...) culturalmente estruturado pela língua, mas territorialmente mais vasto; resulta<br />

de processos coloniais, mas extravasa as fronteiras do que integrou o Império; foi<br />

ativado por Portugal, mas há muito que o seu desenvolvimento e dinamização<br />

são essencialmente produzidos por outros em outras bases territoriais, étnicas e<br />

linguísticas” (p. 20-21).<br />

Afinal, quantas culturas se calaram com as “influências” portuguesas?<br />

Quantas línguas morreram para que o português vingasse? Essas<br />

são algumas das perguntas orientadoras dos artigos que analisam os<br />

patrimônios no campo da linguística e da literatura, que em grande parte<br />

estudam a transformação do português de uma voz normativa do poder<br />

colonial para o português como um instrumento de emancipação. E que<br />

3. “Como a definiu John Elliot, a história atlântica envolve o estudo da criação, destruição e recriação de<br />

comunidades como resultado do movimento através e em torno do oceano Atlântico, de pessoas, bens<br />

materiais, práticas culturais e valores” (p. 286).<br />

298 • Revista MUSAS • 2016 • Nº 7

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