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Musas7

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como um simulacro do poder imbuído de um ofício<br />

que para muitos era sinônimo de curiosidade e<br />

orgulho. Os códigos que passavam despercebidos<br />

pelos controles políticos eram úteis para usuários<br />

da RFFSA e a comunidade do seu entorno. Os<br />

telégrafos sustentavam uma rede de informações<br />

que integravam a cidade ao restante do país.<br />

Os ofícios como lembranças coletivas relacionavam<br />

a história de pertencimento que os ferroviários<br />

possuíam com seu trabalho. O espaço de memória,<br />

era, antes de tudo, lugar de trabalho recheado de<br />

discursos, alguns saudosistas, outros de sofrimento,<br />

mas que identificavam os perfis do trabalhador, sua<br />

condição social, familiar, o tempo das ferrovias, das<br />

fábricas, a ligação da estrada de ferro com o entorno<br />

que se descortinava urbanamente.<br />

A estação ferroviária era tratada nas entrevistas<br />

orais como um objeto vivo, no qual os ferroviários<br />

identificavam os espaços e seus respectivos usos,<br />

bem como suas modificações:<br />

[...] no tempo que eu trabalhava aqui tinha relógio lá<br />

em cima, aqui era a entrada da Estação, ali o telégrafo<br />

trabalhava […]. E aqui o pessoal tinha a bilheteria [...] É isso<br />

aí. Eu nasci aqui e moro aqui, não tem coisa melhor. [...] Ali,<br />

onde descarregava uma base de 150 vagões por dia, ali é<br />

a arena. E aquilo foi do tempo do meu pai, transportavam<br />

mercadoria para o Brasil inteiro, Cipla, Hansen, Steim, Tupy,<br />

tudo dentro da Maria Fumaça, o guarda-freio que apertava<br />

o freio lá em cima está lá hoje. De primeiro era vapor, era<br />

fraco, agora é diesel. 7<br />

O contraponto entre as gerações foi estabelecido<br />

a partir dos registros, falas e audiovisuais, estreitando<br />

a relação entre as diversas formas simbólicas<br />

de identificação e as diferentes maneiras de<br />

apropriação patrimonial. Discutindo as transformações<br />

dos significados das coisas e a importância do<br />

reconhecimento de si mesmo e do outro como atores<br />

sociais contextualizados que, quando transpõem<br />

outros tempos e espaços, podem compor uma terceira<br />

forma de interpretar o mundo.<br />

O Projeto elaborado pela Estação da Memória<br />

para a oficina de telégrafo buscou inserir no contexto<br />

o patrimônio imaterial e os agentes envolvidos neste<br />

processo de produção do saber. Ao trabalhar com<br />

o telégrafo, a educação patrimonial por meio dos<br />

objetos buscava a compreensão e mobilização dos<br />

alunos do município, pois, “[...] atrás de cada artefato<br />

há uma pessoa, ou muitas pessoas. Descobrir quem<br />

eram e como viviam é um fator fundamental para a<br />

experiência humanizante que nos é proporcionada<br />

pelos objetos do patrimônio cultural” 8 .<br />

Além de valorizar um saber fazer, um ofício<br />

extinto, pretendeu-se problematizar as transformações<br />

ocorridas na comunicação, bem como as relações<br />

entre os métodos de trabalho e os processos<br />

educativos funcionais para a manutenção das formas<br />

produtivas, e como se refletiu na cidade a consagração<br />

do patrimônio material.<br />

A realização da parceria com um telegrafista que<br />

exerceu durante muitos anos sua função na antiga<br />

7 LEICHSERING, Edgar. Carta. Datilografada. Barra Velha, setembro de 2009.<br />

8 HORTA, Maria de Lourdes Parreira. Educação patrimonial: comunicação apresentada na Conferência Latino-Americana sobre a preservação do Patrimônio<br />

Cultural, 1991, p. 1-14.<br />

96 • Revista MUSAS • 2016 • Nº 7

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