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de uso cotidiano, como linguagem, signo visual,<br />
símbolo de status, de representação de gênero,<br />
como forma de expressão pessoal e coletiva, pois<br />
ela encerra em si a minha identidade e as minhas<br />
escolhas, bem como o reflexo de meu ambiente<br />
sociocultural. Não à toa, uma das questões mais<br />
discutidas na contemporaneidade tem sido a<br />
relação entre gênero e vestimenta, pois a roupa<br />
é a linguagem primeiramente visível ao olhar do<br />
outro e que, portanto, face a qualquer subversão<br />
de seu uso, provoca choque e afronta. Afinal, como<br />
observa o filósofo Maurice Merleau-Ponty, um corpo<br />
deve ser lido em conjunto com todos os outros aos<br />
quais ele se associa; isto é, meu corpo se contrapõe,<br />
inevitavelmente, a todos os outros corpos que não<br />
são o meu. Um corpo não existe sozinho, ele existe<br />
em constante (inter)ação com outros corpos.<br />
E o que falar das possibilidades da moda na ação<br />
educativa com o público infantojuvenil?<br />
“ (...) a moda e a roupa podem<br />
ser utilizadas na ação educativa<br />
de qualquer tipologia de<br />
museus, abrindo-se como<br />
espaço de encontro, seja de<br />
mediadores seja de diferentes<br />
períodos históricos.”<br />
A moda, investigada como campo de reflexão<br />
e de ação junto a crianças e adolescentes, se<br />
apresenta como rico material de trabalho junto a<br />
essa faixa-etária, especialmente por tocar temas<br />
tão caros quanto delicados presentes no cotidiano,<br />
tais como padrão de beleza, gênero, consumismo,<br />
sustentabilidade, racismo, diversidade, bem como,<br />
naturalmente, história da moda, da arte e da<br />
cultura. Quando a reflexão feita a partir do objeto<br />
ou da literatura é acompanhada de atividades<br />
manuais, como são as oficinas e os ateliês criativos,<br />
o pensamento crítico é estimulado de outra forma,<br />
através de outra vivência, que busca aproximar a<br />
criança da experiência da criação e da invenção.<br />
Afinal, vivemos a moda em nosso cotidiano, e para<br />
problematizá-la é preciso trabalhar todos os seus<br />
aspectos: sua imaterialidade (leitura e debate) e sua<br />
materialidade (oficinas criativas).<br />
A moda mostra-se então um amplo campo de<br />
investigação junto ao público infantil e jovem,<br />
justamente por reunir, em essência, a materialidade<br />
da roupa e a imaterialidade da representação social<br />
como signo visual, ideia que remete à reflexão de<br />
Walter Benjamin, no ensaio A obra de arte na era<br />
de sua reprodutibilidade técnica: a autenticidade<br />
de um objeto é a quintessência de tudo o que foi<br />
transmitido pela tradição, a partir de sua origem,<br />
desde sua duração material até o seu testemunho<br />
histórico. Assim, a vivência da criança, seu cotidiano<br />
escolar e familiar se transformam em ricos contextos<br />
266 • Revista MUSAS • 2016 • Nº 7