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Musas7

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De todo modo, há um aspecto que precisará sempre ser considerado<br />

no estudo de coleções em museus: o que sobrevive normalmente é raro e<br />

deve-se investigar, quando possível, a biografia do artefato, considerando<br />

possíveis alterações no traje. A menos que a roupa tenha algum significado<br />

especial para uma família ou indivíduo, ela não é normalmente preservada<br />

e seu destino é quase sempre o descarte e o reúso. O tecido – material<br />

de que a maior parte das roupas das sociedades antigas e modernas são<br />

feitas – tem essa característica de poder ser transformado em outras<br />

roupas ou objetos como almofadas, cortinas etc. Alexandra Palmer,<br />

curadora do Royal Ontario Museum, Canadá, estuda atualmente a forma<br />

como entendemos noções temporais e espaciais a partir do estudo da<br />

indumentária, identificando, por meio da análise de artefatos (objectbased<br />

research), esse reúso de materiais na confecção de novos trajes 22 .<br />

A maior parte da indumentária que sobreviveu e que foi colecionada<br />

representa, portanto, algum tipo de raridade – pertenceu a personagens<br />

ou eventos históricos que foram valorizados em algum momento –, foi<br />

considerada o melhor exemplo de estilo, técnica ou design, foi guardada<br />

por seu tecido caro ou raro. São artefatos tratados como “objetos de<br />

memória” 23 , algo que transcende a funcionalidade primária para envasar<br />

e encarnar múltiplos significados, relíquias 24 , de modo que as políticas de<br />

colecionismo e preservação de acervos em museus merece atenção em<br />

estudos sobre indumentária.<br />

Vestido de baile em veludo negro. Busto<br />

drapeado em forma de grande laço, amplo<br />

decote em “V”, pequenas mangas drapeadas,<br />

saia em corte princesa com grande cauda.<br />

Origem francesa, século XIX.<br />

Foto: Sylvana Lobo / Ibram / Acervo do Museu Casa da Hera<br />

No Brasil: patrimonialização, colecionismo<br />

e preservação de indumentária<br />

Os museus no Brasil possuem indumentária principalmente datada dos<br />

séculos XIX e XX, mas a condição atual das coleções em museus é pouco<br />

estudada, o que contribui para perpetuar mitos, práticas inadequadas de<br />

documentação, preservação e conservação, criando um círculo vicioso.<br />

José Bittencourt já havia observado essa questão como sendo generalizada<br />

de museus brasileiros ao afirmar que, com exceção de determinados<br />

museus de arte, numismática e moedas, não há políticas claras e sistematização<br />

para a ampliação de acervos em museus 25 . Contudo, vale destacar<br />

23. Cumming, op.cit., p. 48.<br />

24. Um tema complementar e bastante<br />

atual é a desmaterialização dos acervos em<br />

museus, assunto que foi tema da conferência<br />

de Ulpiano B. T. De Meneses na abertura da<br />

23 a Conferência Internacional do Icom, Rio de<br />

Janeiro/RJ, agosto de 2013.<br />

25. Museus Instituição de Pesquisa. –<br />

Organização de: Marcus Granato e Claudia<br />

Penha dos Santos. — Rio de Janeiro : MAST,<br />

2005. 100p. (MAST Colloquia; 7) A pesquisa<br />

como cultura institucional: objetos, política<br />

de aquisição e identidades. José Neves<br />

Bittencourt, p. 37-50, p. 40. Disponível em:<br />

http://www.mast.br/livros/mast_colloquia_7.<br />

pdf. Acesso em: 19/04/2013.<br />

19 • Revista MUSAS • 2016 • Nº 7

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