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Musas7

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entre os conhecimentos particulares senão você não chega. Aí ele dá um<br />

exemplo para a biblioteca que serviria para o museu também: “Se uma<br />

bomba de hidrogênio destruísse todo o planeta Terra e só sobrasse uma<br />

universidade, era possível reconstruir o mundo com o que tem no cérebro<br />

dos professores, dos alunos e nas bibliotecas da universidade”. Ele estava<br />

se referindo evidentemente às universidades europeias porque qualquer<br />

biblioteca de universidade europeia tem bilhões de títulos. Mas quando eu<br />

li isso, e você pode colocar o museu como instituição cultural, eu disse: “E<br />

se a universidade fosse a minha, a UERJ ou a Unirio, que mundo a gente<br />

poderia construir?”. Ou a Universidade Federal do Amazonas, a do Pará,<br />

que mundo a gente poderia construir? Quer dizer, se fosse a UERJ acho<br />

que nem mandioca a gente plantaria mais. O José Jorge está discutindo<br />

o lugar desse conhecimento dentro da universidade, do encontro de<br />

saberes. Como esses saberes tradicionais deveriam ter um espaço na<br />

universidade. E não se trata só do produto porque é uma crítica que se faz,<br />

por exemplo, à educação indígena. “O conhecimento tradicional indígena<br />

tem que estar dentro da escola”. E a Manuela Carneiro da Cunha chama<br />

a atenção: “Tudo bom, mas devemos ficar com um pé atrás porque isso<br />

pode matar o conhecimento tradicional levando para a escola”. Porque o<br />

importante, diz a Manuela, não é o produto, é o processo de produção.<br />

É muito interessante o que ela coloca. Esse espaço do saber tradicional<br />

dentro da escola da sociedade brasileira é que eu acho importante. Olha,<br />

eu tive um caso de câncer na minha família. Minha mulher teve câncer no<br />

seio no ano 2000. Uma coisa pavorosa, eu fiquei apavorado. E eu comecei<br />

a procurar no Google toda informação. Aí lá eu vejo que excepcionalmente<br />

o homem pode ter. Aí um ano depois, dois anos depois, começa a aparecer<br />

aqui uma protuberância aqui no meu peito. Aí eu apavorei: “É câncer. Estou<br />

com câncer”. E eu tinha que dar um curso para os índios Tuyuka lá no rio<br />

Tiquié, no Amazonas. Procurei um dermatologista aqui. O cara olhou e<br />

desmoralizou meu caso, disse: “Cisto sebáceo. Eu dou um corte, dou três<br />

pontos e está resolvido o problema”. Eu disse: “Estou com uma viagem<br />

marcada para o Amazonas”. E ele: “Vai tranquilo e, quando voltar, a gente<br />

faz isso”. Eu passo vinte e poucos dias com os Tuyuka e volto passando<br />

por Manaus. Eu tenho nove irmãs mulheres e três irmãos homens. Aí eles<br />

“Eu acho que o<br />

museu, cada<br />

museu devia<br />

ter dentro de si<br />

esse espírito de<br />

luta contra os<br />

preconceitos,<br />

contra a<br />

desinformação, que<br />

lamentavelmente<br />

ainda toma conta<br />

da sociedade<br />

brasileira.”<br />

187 • Revista MUSAS • 2016 • Nº 7

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