06.08.2014 Views

RTJ 199-2 (Fev-07)- Pré-textuais.pmd - STF

RTJ 199-2 (Fev-07)- Pré-textuais.pmd - STF

RTJ 199-2 (Fev-07)- Pré-textuais.pmd - STF

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

824<br />

R.T.J. — <strong>199</strong><br />

atualizar a Constituição, exclusivamente; refundir a norma-princípio, a normacomeço<br />

do ordenamento. As emendas não se põem como fundamento de validade das<br />

leis. Não se pode conceber as emendas como mecanismos de convalidação de leis,<br />

pois elas não dialogam com as leis. Elas existem para manter uma conversa, em<br />

particular, com a Constituição, porque é uma emenda exclusivamente à Constituição.<br />

Então, a tese da convalidação das leis por emenda à Constituição, data venia do<br />

entendimento contrário, parece-me contrariar toda a teoria, a teoria mais consolidada<br />

da Constituição — repito —, cujo fundamento de validade é outro: é suprapositivo ou<br />

supra-estatal.<br />

O Sr. Ministro Nelson Jobim (Presidente): A Emenda n. 26, que deu validade a essa<br />

originária sua, não é?<br />

O Sr. Ministro Carlos Britto: Porque, aí, essa emenda, essa convocação do<br />

legislador constituinte também está no mundo das coisas metajurídicas.<br />

O Sr. Ministro Nelson Jobim (Presidente): Então, afasta a discussão sobre se é<br />

originária ou não.<br />

O Sr. Ministro Carlos Britto: Não.<br />

O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: A Emenda Constitucional n. 26 é claramente<br />

inconstitucional. O golpe foi ali, a ruptura foi ali.<br />

O Sr. Ministro Carlos Britto: Exatamente.<br />

O Sr. Ministro Nelson Jobim (Presidente): Essa é a construção que V. Exa. faz para<br />

manter a coerência do sistema, mas não foi isso o que aconteceu. Quem fez a<br />

Constituição foram os eleitos. Então, não há o mínimo sentido.<br />

O Sr. Ministro Carlos Britto: Ou seja, a emenda de convocação da constituinte<br />

necessariamente está no mundo dos fatos. Não pode estar no mundo do Direito.<br />

O Sr. Ministro Nelson Jobim (Presidente): O problema é engessar a política<br />

brasileira na história européia. Essa é a dificuldade.<br />

O Sr. Ministro Carlos Britto: Não é bem isso, porque, se uma constituição<br />

dispusesse de norma para convocar o legislador constituinte, estaria cavando a sua<br />

própria sepultura. E nenhuma constituição tem vocação para o suicídio. De modo que<br />

toda norma de convocação de uma constituinte é, por definição, um mecanismo<br />

inconstitucional, porque se situa exclusivamente no mundo dos fatos.<br />

Para concluir, Sr. Presidente, eu diria o seguinte: uma lei ordinária que ofenda a<br />

Constituição não é perdoada jamais por essa Constituição. E o perdão não pode ser<br />

concedido por uma emenda. A Constituição não gosta tanto de suas emendas a ponto de<br />

dar sua vida por elas. A Constituição preserva, antes de tudo, a si mesma, e as próprias<br />

emendas não podem alterar o esquema que a Constituição traçou para a produção e o<br />

conteúdo das leis ordinárias.<br />

O Sr. Ministro Nelson Jobim (Presidente): Se ela for rígida, não se for flexível.<br />

O Sr. Ministro Carlos Britto: Não. A nossa é até super-rígida.<br />

O Sr. Ministro Nelson Jobim (Presidente): Não é a Constituição. É o tipo específico<br />

de Constituição.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!